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Das montanhas à esperança, projeto hídrico impulsiona desenvolvimento no Lesoto

Por Yan Ran

Maseru – Quando a noite chega nas terras altas do norte do Lesoto no início de julho, o frio do inverno aumenta. Ainda assim, o canteiro de obras do Túnel de Transferência Polihali continua em plena atividade.

“Estamos operando 24 horas por dia com três turnos rotativos”, disse Julius Topo, gerente do local responsável pela escavação do túnel.

O Túnel de Transferência Polihali é a segunda fase do multifásico Projeto Hídrico das Terras Altas do Lesoto (LHWP). Projetado para fornecer água do Lesoto para a região de Gauteng e áreas vizinhas na África do Sul, o projeto virou um marco para este país sem litoral e seu vizinho.

O túnel, com 38 km de extensão, será escavado com o uso simultâneo de duas tuneladoras blindadas de rocha dura (TBMs), partindo de Polihali e Katse.

A primeira TBM começou a escavação a partir do local de Katse no início deste ano. Em 5 de julho, foi realizada a cerimônia de lançamento da segunda TBM no Posto Fronteiriço de Caledonspoort, em Butha-Buthe, Lesoto. Essa máquina, fabricada na China, foi enviada para o Porto de Durban e será montada no local de Polihali. A expectativa é que acelere significativamente o cronograma, com conclusão prevista para 2028.

Discursando na cerimônia, a alta comissária da África do Sul no Lesoto, Constance Seoposengwe, disse acreditar que a nova máquina dará ainda mais impulso ao progresso da obra.

“O Projeto Hídrico das Terras Altas do Lesoto é mais do que apenas um projeto hídrico”, disse ela. “Foram criados empregos locais e construídas novas estradas no Reino”.

Construído pela Kopano Ke Matla (KKM), uma joint venture entre a chinesa Yellow River Company, a Sinohydro Bureau 3 e a Unik Civil Engineering da África do Sul, o túnel é o maior projeto de infraestrutura em andamento entre os dois países.

O nome da empresa, Kopano Ke Matla, que significa “união é força” no idioma sesoto, uma das línguas oficiais do Lesoto, reflete a diversidade e a inclusão da força de trabalho.

Topo, um veterano da primeira fase do LHWP na década de 1990, ressaltou a importância de repassar experiência. “TBMs foram usadas na Fase I, mas 30 anos se passaram. Agora é hora de compartilhar meu conhecimento com colegas locais para aprimorar a organização do local”, disse ele.

“Gerenciar uma equipe multicultural tem muitos desafios, mas estou aprendendo com os chineses e compartilhando o que sei. Estamos nos dando bem”, acrescentou ele.

De acordo com Xu Xishuai, gerente comercial da KKM, mais de 99% da força de trabalho qualificada é contratada localmente, criando mais de 1.800 empregos desde o envolvimento da empresa.

“O projeto melhorou a infraestrutura local, gerou empregos e transmitiu habilidades profissionais essenciais. É mais do que apenas cavar um túnel”, disse Xu.

Embora ainda esteja em andamento, os benefícios do projeto já são visíveis. Os serviços de transporte na região se expandiram. A maioria dos engenheiros, subcontratados e fornecedores são locais. O uso de materiais de construção e serviços de alimentação locais tem mantido os recursos dentro da comunidade, reforçando o impacto positivo.

Nascido na vila vizinha de Bafali, o engenheiro de túneis Montso Lebitsa viu as mudanças de perto. “Viajar de Mapholaneng a Katse levava mais de oito horas por causa do trânsito. Agora, com a nova estrada construída pelo projeto, leva menos de duas horas”, contou sorrindo.

O apoio à saúde também melhorou. “A equipe médica chinesa vem de tempos em tempos oferecer serviços de saúde gratuitos para os trabalhadores e moradores. Estamos em áreas remotas, longe de clínicas e centros de saúde”, disse Maseqhoang Sechaba, agente de ligação comunitária do projeto.

Masiphola Sekonyela, chefe de Tloha Re Bue, uma das áreas próximas ao local de Polihali, elogiou as contribuições do projeto. “Fiquei animado quando soube que os chineses liderariam o projeto. Eles trabalham duro e fazem acontecer”, disse ele. “Nosso povo vivia da agricultura e da criação de animais, mas agora tem empregos, melhor acesso a mercadorias e mais opções para o futuro”.

Pride Mudzingwa, CEO da Tashie Training and Business Solutions, coordena o programa de treinamento profissional da KKM. “Classificamos os participantes como não qualificados, semianalfabetos e qualificados para adaptar as aulas de acordo”, disse Mudzingwa.

As turmas foram reduzidas de 20 a 25 para 10 a 15 pessoas, visando melhores resultados. Os cursos vão de oficinas de cinco dias até programas de três anos e abrangem áreas como encanamento, manutenção, controle de qualidade, entre outras.

Com um investimento de mais de 44 milhões de lotis do Lesoto (2,47 milhões de dólares americanos), o programa visa treinar mais de 6.000 trabalhadores qualificados em três anos. Até agora, mais de 500 já concluíram o treinamento e retornaram ao trabalho.

“Emitimos certificados reconhecidos em todos os países da África Austral, o que significa que os trabalhadores podem continuar empregados ou até serem promovidos após o fim do projeto”, disse Rethabile Letsoalo, agente de ligação entre comunidade e cliente da Tashie Training and Business Solutions. “Esta pode ser uma oportunidade única para muitos, e somos gratos aos nossos parceiros chineses por oferecerem isso gratuitamente”, disse Letsoalo.

Para Mpoi Elizabeth Rankhethoa, tradutora da unidade de Katse, que se formou no ano passado na Universidade Central de Finanças e Economia da China com uma bolsa integral, retornar para casa para trabalhar neste projeto foi revelador.

“Raramente temos um projeto desta escala no Lesoto, e isso significa muito”, disse Rankhethoa. “Não é a primeira vez que China e Lesoto trabalham juntos e não será a última”.

Marcelo Oliveira de A. Maranhao

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