Jornalista: O Sr. é da Bélgica, um dos primeiros países ocidentais a desenvolver cooperação com a China. Ao longo das últimas décadas, a cooperação entre a China e a Bélgica nos campos econômico e comercial tem crescido cada vez mais. Quais são as suas perspectivas para isso?
Leterme: Pode-se dizer que a Bélgica é uma porta de entrada para a Europa. Embora seja pequena em área, com apenas mais de 30 mil quilômetros quadrados, o país possui portos próximos ao Mar do Norte, além de cidades históricas como Antuérpia, Bruges, Gante e Bruxelas, conhecida como a “capital europeia”. Devido a estas vantagens, começamos desde cedo a desenvolver a cooperação com a China. A Bélgica tem muitos investimentos na China, como Xi’an Janssen Pharmaceuticals, Shenyang Bekaert, etc. O investimento da China na Bélgica também é grande. Já existem muitas empresas chinesas investindo na Bélgica. Por exemplo, as infraestruturas da Bélgica proporcionam conveniência à indústria de veículos eléctricos da China e as empresas chinesas podem exportar carros de novas energias para a Europa através da Bélgica. Os laços econômicos entre a Bélgica e a China são, portanto, muito estreitos.
Jornalista: O Sr. elogiou o nível de fabricação dos veículos de novas energias da China. O que acha da cooperação entre os dois países nesta área e da competitividade geral do “Made in China”?
Leterme: Quando falar de automóveis, um fato histórico indiscutível é que, em relação aos veículos movidos a combustível tradicional, as empresas norte-americanas e europeias foram líderes. Não é fácil para a indústria automobilística da China superar a distância. Mas, agora, a situação parece estar invertida. Na área emergente dos veículos eléctricos, a China tem a oportunidade de começar do zero e tem, ao mesmo tempo, alguns dos principais recursos naturais necessários para a produção de baterias. Portanto, a estrutura da área dos veículos elétricos é completamente diferente da dos carros tradicionais. A China já está na vanguarda e ainda estamos a trabalhar arduamente para encontrar formas de superar. A nossa indústria automobitísica existente e as linhas de montagem na China precisam ser reformadas, não apenas os produtos em si, mas também os métodos de produção.
Jornalista: A China mantém relações de cooperação com a Bélgica e outros países europeus, mas ainda existem, de vez em quando, alguns atritos entre a China e a UE. Em frente aos desafios e diferenças, como fazer esta relação bilateral continuar a avançar?
Leterme: Não é surpreendente que os poderes tradicionais enfrentem problemas e desafios na adaptação à nova situação. Penso que estes são apenas pequenos episódios e que devemos enfrentar e lidá-los com calma. Penso que nos encontramos num momento crítico tanto na relação entre os Estados Unidos e a China e como na relação entre a UE e a China. Para a UE, a chave é manter a sua própria posição, em vez de agir como um parceirinho dos Estados Unidos, e ter os seus próprios pontos de vista. Estamos na Eurásia e devemos continuar a promover a cooperação aberta e o comércio justo, criar um ambiente de concorrência justa para as empresas e proteger o investimento e as trocas comerciais. Por exemplo, penso que a UE e as instituições concernentes devem ratificar o Acordo de Investimento UE-China. O vice-presidente da Comissão Europeia divulgou uma declaração em setembro dizendo que a Europa não queria “dissociar-se” estrategicamente da China, mas queria reduzir os riscos da cadeia de abastecimento. Acho que esta é a direção certa.
Jornasista: Os países têm diferentes interpretações sobre desenvolvimento pacífico da China e há algumas críticas injustas, especialmente por parte dos países ocidentais, incluindo os europeus. Em primeiro lugar, porque é que considera importante compreender a China de forma justa? Em segundo lugar, como interpreta corretamente a influência cada vez maior da China?
Leterme: Penso que a chave é olhar para os fatos, os dados e as razões das coisas, que é a base da compreensão mútua. Não dê ouvidos a slogans ou exageros, pois podem ser mal-entendidos ou haver distorções dos fatos. Por exemplo, tem havido algumas discussões recentes sobre o desenvolvimento militar da China. Penso que é normal que um país como a China tenha meios para se defender e salvaguardar os seus interesses. Os países europeus não são exceção e precisaremos fazer isto ainda mais nos próximos anos. A importância está na compreensão mútua e no esclarecimento dos fatos, em vez de ouvir e acreditar em informações preconceituosas, o que não é do interesse a longo prazo das pessoas.