Um dos movimentos estratégicos da China para as próximas décadas, buscando a concretização do “sonho chinês” apresentado pelo presidente Xi Jinping, é a integração dos países asiáticos. De forma semelhante ao projeto Mercado Comum do Sul (Mercosul), iniciado pelos países da América do Sul nos anos 1990, instituições e acordos como a Organização de Cooperação de Shanghai (SCO, sigla em inglês) e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, sigla em inglês) buscam integrar economias asiáticas para libertarem-se da conjuntura exclusivista e predatória do capitalismo ocidental, estabelecendo relações saudáveis e de ganha-ganha com seus parceiros continentais e outros países do Sul Global.
A China sempre foi um farol no sentido da soberania de outros países, conforme ocorreu na Guerra de Resistência Contra a Agressão dos EUA e Ajuda à Coreia nos anos 1950, ou no apoio ao Exército Popular do Vietnã na guerra com os Estados Unidos nos anos 1960 e 1970. Atualmente, as dificuldades da Ásia não são mais belicosas e, sim, comerciais. Após anos de exploração pelas potências imperialistas, ainda resta ao Oriente o problema da exclusividade imposta pelos países ricos. O que, no Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes chamou de “capitalismo dependente”, ou seja, aquele que só se desenvolve mediante a autorização e apoio das potências ocidentais, como ocorreu com Coreia do Sul e Japão, atinge hoje a Ásia Central e o Sudeste Asiático.
Para a solução desses problemas, o presidente chinês Xi Jinping, já desde 2013, proferiu um discurso na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, em que relembrou o papel de integração milenar entre China e Ásia Central proporcionado pela Rota da Seda, que retorna ao seu lugar de protagonista na economia global com a Iniciativa Cinturão e Rota ou, mais diretamente, Nova Rota da Seda.
“O Cazaquistão, por onde passava a antiga Rota da Seda, deu contribuições importantes para a comunicação das civilizações oriental e ocidental e para o intercâmbio e cooperação entre nações e culturas diferentes”, disse o presidente, completando: “Atualmente, as relações entre a China e os países da Ásia Central têm pela frente uma rara oportunidade de expansão. Esperamos aumentar, junto com os países dessa região, e de forma constante, a confiança mútua, solidificar a amizade e reforçar a cooperação com a finalidade de promover o desenvolvimento comum e a prosperidade comum e buscar benefícios aos povos de todos os países”.
Voltando-se para o Sudeste Asiático, no mesmo ano, em discurso no Congresso Nacional da Indonésia, Xi Jinping declarou seu respeito à autodeterminação da região. Ela, hoje, é marcada pela integração com o Ocidente determinada pela rápida expansão econômica, na condição de exportadora de indústria simplificada, o que lhe conferiu o apelido de Tigres Asiáticos, que nos anos 1970 e 1980 compreendia os Estados de Singapura e Coreia do Sul, mais as regiões chinesas de Hong Kong e Taiwan. Atualmente, os Tigres são Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia e o Vietnã.
“Devemos respeitar o direito de cada um de escolher o seu sistema social e o seu caminho de desenvolvimento, bem como o direito de promover o seu desenvolvimento econômico e social e melhorar a vida do seu povo”, disse Xi Jinping. “A China está disposta a negociar com os países da Asean a conclusão de um tratado de boa vizinhança, amizade e cooperação, planejando juntamente um lindo futuro do relacionamento”.
Salientou, ainda, o compromisso da China em reforçar parcerias sem negligenciar os países ricos, mas privilegiando a soberania: “Devemos abandonar a mentalidade de Guerra Fria e preconizar um novo conceito de segurança integral, comum e cooperativa, conjugando nossos esforços para defender a paz e a estabilidade da região”.
Por isso, a iniciativa do presidente chinês inscreve-se no aperfeiçoamento das relações entre os países asiáticos, com a melhor ferramenta chinesa para as relações internacionais: a diplomacia aliada às políticas de ganha-ganha. Com fraternidade, sinceridade, benefício mútuo e inclusão, o país que fez crescer a Ásia como protagonista internacional no passado, retorna como agente na união e crescimento das nações asiáticas. O trabalho é pela nova consolidação de um continente protagonista, integrado globalmente, mas livre dos grilhões coloniais que o marcaram das navegações europeias às guerras do século XX.
Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional