Preocupação e ceticismo marcam, desde a última semana, o principal evento de debates sobre a questão climática no mundo. Na quinta-feira, dia 30 de novembro, começou a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP 28), que reúne chefes de Estado e outros líderes mundiais para a discussão dos principais problemas sobre as mudanças climáticas globais. Isso envolve principalmente o aquecimento da Terra por conta da emissão de gases frutos de processos de combustão. Porém, deste fato advêm outros igualmente danosos para a existência do ser humano, como a elevação do nível dos oceanos, a extinção de espécies animais e vegetais, o aumento do número de catástrofes meteorológicas, as ondas de calor, dentre muitos outros.
Quase todos os países estão envolvidos no problema. Isso porque, apesar do que possa ser inferido inicialmente, a emissão de gases de efeito estufa não está necessariamente relacionada a carros e indústrias. Outros também contribuem para este estado de emergência. Poucos dão a devida atenção, mas a agropecuária tem imensa participação no problema, já que rebanhos ostensivos de animais de grande porte geram gases orgânicos, proveniente dos gases intestinais de toda uma superpopulação animal. Ao mesmo tempo em que essa fonte poluente possa parecer inusitada, mostra-se um imenso problema, porque desacostumar a humanidade da ingestão desenfreada de carne bovina, priorizando, ao invés disso, o consumo de proteínas mais sustentáveis como as de peixe e frango, é algo que não acontece do dia para a noite.
Diante disso, o que se viu na COP 28 foi um encontro com uma série de palavras e atitudes em que os próprios líderes se mostraram impotentes diante da emergência climática. O país que, historicamente, é o principal responsável pelas mudanças climáticas, os Estados Unidos, comprometeu-se a parar de utilizar usinas movidas a carvão como ferramenta para geração de energia. Em se tratando do país com o maior parque industrial do planeta, além do setor militar-industrial mais poderoso e um dos mais numerosos rebanhos bovinos do mundo, e levando-se em conta que este já é um processo em curso até pela viabilidade econômica de outros modais, a proposta é tímida.
Segundo a Organização Não-Governamental (ONG) Climate Watch Data, nove países, entre eles Estados Unidos e China, respondem por 60% das emissões de gases de efeito estufa. Isso é, até certo ponto, compreensível, já que se trata dos mais importantes parques industriais no mundo. No caso da China, há de se considerar que ela tem possivelmente a segunda maior população do planeta (não há números confiáveis sobre a população da Índia, que hoje deve ser a maior). Se medida a emissão per capita, ou seja, considerada a divisão do número total de gases por habitante do país, o montante da China aproxima-se, segundo a ONG Our World in Data, ao de países tidos como ambientalmente compromissados, como Espanha e França.
O importante, porém, é encontrar quais soluções seriam possíveis para cada país. A questão se impõe na medida em que a industrialização é ferramenta primordial para o progresso dos países pobres e emergentes, assim como a agropecuária é a saída possível para que vários deles desenvolvam seus mecanismos de integração econômica com o capital internacional, podendo dar força motriz ao seu desenvolvimento. Entre o Brasil e a China, posição é pelo multilateralismo, o que se aplicaria ao meio ambiente com a tomada de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, que garantiriam equidade entre os países ricos e os mais pobres.
“A China está disposta a trabalhar com a comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas, para respeitar plenamente o importante status da Convenção-Quadro das Nações Unidas”, disse o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, em encontro com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres. Ding completou: “especialmente o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, e o sistema básico de condições determinadas a nível nacional, e promover o estabelecimento de um sistema de governança climática global justo, razoável, cooperativo e vantajoso para todos”.
“O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. […] Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades. Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. E torna-se incapaz de pensar no amanhã. Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas […] significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global”, disse o presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, durante a COP 28.
Ding busca que os acordos da ONU observem as necessidades de cada país na tomada de responsabilidades quanto à segurança ambiental, e Lula atém-se mais ao drama das pessoas e países em situação miserável. Ambos, porém, chamam a atenção para uma mesma realidade: é impossível exigir dos mais pobres a preocupação com o clima, antes que essas populações sejam resgatadas de suas próprias catástrofes: a fome, a falta de infraestrutura, a frágil soberania territorial, a violência e os ataques econômicos e militares dos países ricos.
Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional