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Conflito em Gaza — Dois anos de devastação e perspectivas sombrias

Cairo – Enquanto o Hamas e Israel se reúnem no Egito para discutir um possível cessar-fogo que o mundo aguarda ansiosamente, Gaza comemorou o sombrio segundo aniversário do conflito na terça-feira.

Nos últimos dois anos, o que começou como um ataque transfronteiriço do Hamas, sob o peso da temeridade política e da indulgência das superpotências, se transformou em um dos conflitos mais fatais do mundo na história recente, adicionando mais uma ferida aberta a uma região já marcada por conflitos e reclamações.

Apesar das negociações de paz em andamento, analistas alertam que, enquanto os direitos fundamentais do povo palestino forem deixados de lado, a paz duradoura no Oriente Médio continuará sendo pouco mais do que um sonho.

“UMA GUERRA SEM VENCEDOR”

Desde o momento em que o Hamas cruzou a fronteira israelense em 7 de outubro de 2023, abrindo uma caixa de Pandora geopolítica, Israel tem travado uma guerra em nome da vingança, liberando seu poderio militar das margens do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico.

Como epicentro desse terremoto regional, Gaza foi a região mais afetada.

De acordo com autoridades de Gaza, mais de 90% da infraestrutura de Gaza foi destruída por ataques aéreos israelenses. Mais de 67.000 palestinos foram mortos, a grande maioria civis, mulheres e crianças, e outros 169.000 ficaram feridos.

O enclave se tornou um “inferno em vida”, como o descreveu o secretário-geral da ONU, António Guterres. “A escala de morte e destruição está além de qualquer outro conflito durante meus anos como secretário-geral”.

Mas o alcance da “guerra de vingança” israelense não se restringiu aos limites de Gaza. Conforme o ataque à faixa continua, Israel lançou ataques militares diretos contra alvos no Iêmen, Líbano, Iraque, Irã, Síria e Catar, envolvendo-se em um conflito multifrontal na região.

Embora Israel pareça ter diminuído o que considera ameaças na região, analistas dizem que a “guerra de vingança” também teve um impacto significativo no país.

De acordo com dados oficiais israelenses, milhares de israelenses foram mortos desde o início do conflito entre o Hamas e Israel. Dezenas de reféns feitos pelo Hamas durante seu ataque inicial continuam em cativeiro, apesar da promessa inicial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de trazer todos eles de volta para casa.

Enquanto isso, a crise humanitária que se desenrola em Gaza atrai crescente condenação internacional. A simpatia pelos palestinos, aliada à desilusão com as políticas israelenses, alimentou uma onda crescente de países que reconhecem formalmente um Estado Palestino.

Em setembro, Reino Unido, Canadá, Austrália e França, entre outras nações ocidentais, anunciaram o reconhecimento do Estado Palestino, um movimento diplomático amplamente interpretado como uma repreensão à prolongada campanha militar de Israel.

“A guerra em Gaza continua, a catástrofe humanitária piora, a legitimidade de Israel se desgasta e a região se prepara para mais instabilidade”, disse à Xinhua, Roee Kibrik, chefe de pesquisa do Mitvim, Instituto Israelense de Políticas Externas Regionais. “Esta guerra não tem vencedor”.

CÁLCULOS POLÍTICOS E INDULGÊNCIA DE SUPERPOTÊNCIAS

No cerne da prolongação do conflito em Gaza, dizem analistas, há duas forças poderosas: o próprio cálculo político interno de Israel e o amplo apoio dos Estados Unidos.

Desde os primeiros dias de sua “guerra de vingança”, Israel estabeleceu três objetivos principais: o retorno de todos os reféns, o desmantelamento do aparato militar e político do Hamas e a garantia de que Gaza nunca mais ameace Israel.

Dois anos depois, Gaza está em ruínas e, ainda assim, nenhum desses objetivos foi alcançado.

Palestino observa danos na Torre Taiba, de 11 andares, após ataque aéreo israelense a oeste da Cidade de Gaza, em 10 de setembro de 2025. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)

Especialistas sugerem que isso não foi acidental, pois os objetivos declarados nunca foram realmente a prioridade. De acordo com Eyal Zisser, reitor da Universidade de Tel Aviv e especialista em assuntos do Oriente Médio, a “guerra de vingança” tem sido usada por Netanyahu para fortalecer sua posição política e preservar sua coalizão de governo de extrema direita.

Em agosto, quando questionado em uma entrevista se ele se sentia conectado à visão de “Grande Israel”, Netanyahu respondeu: “Muito”.

O chamado “Grande Israel” refere-se a uma visão expansionista que reivindica não apenas a Cisjordânia e Gaza ocupadas, mas também partes do Líbano, Síria, Egito e Jordânia, um mapa geopolítico que se estende muito além das fronteiras de Israel.

Para Refaat Badawi, analista político e ex-assessor presidencial no Líbano, as declarações de Netanyahu sinalizam que “Israel pretende redesenhar os mapas do Oriente Médio de forma que sirva ao objetivo israelense de expansão no Oriente Médio”.

Além das próprias manobras políticas de Israel, os Estados Unidos têm fornecido apoio incondicional a Israel durante todo o conflito em Gaza.

De acordo com dados oficiais israelenses de maio, Washington entregou 90.000 toneladas de armas a Israel entre outubro de 2023 e maio de 2025.

Além da ajuda militar, os Estados Unidos se aproveitaram de seu status de superpotência para proteger Israel politicamente, ignorando a ampla oposição e condenação internacional.

No Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos usaram seu poder de veto seis vezes para bloquear resoluções relacionadas a Gaza que pediam um cessar-fogo, prejudicando os esforços internacionais para conter o derramamento de sangue.

“Os repetidos vetos de Washington no Conselho de Segurança da ONU protegeram Israel da responsabilidade internacional. Ao mesmo tempo, a ajuda financeira e militar dos EUA sustenta o esforço de guerra de Israel”, destacou Mohammed Osman Ali, editor-chefe do jornal The Peninsula, do Catar.

A enviada especial adjunta da Presidência dos EUA para o Oriente Médio, Morgan Ortagus (centro, frente), vota contra projeto de resolução na reunião do Conselho de Segurança da ONU na sede da ONU em Nova York, em 18 de setembro de 2025. Os Estados Unidos vetaram na quinta-feira um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigiria que Israel suspendesse imediatamente todas as restrições ao acesso e entrega de ajuda humanitária em Gaza. (Xinhua/Xie E)

LUZ FRACA NO FIM DO TÚNEL

Sob o olhar global, o Hamas e Israel estão envolvidos em negociações indiretas centradas em um plano de cessar-fogo de 20 pontos em Gaza, apresentado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Trump considerou a proposta um “passo crítico” em direção a uma paz duradoura, ao mesmo tempo em que ameaçou que a recusa do Hamas poderia levar à “obliteração completa”.

Embora Israel tenha aceitado o plano e o Hamas tenha oferecido uma resposta cautelosamente positiva, permanecem grandes questões sobre se ele realmente trará paz a Gaza.

A proposta exige o desarmamento total do Hamas, atingindo o cerne da sobrevivência do grupo.

Enquanto isso, o plano ignora qualquer menção à implementação da solução de dois Estados, amplamente considerada essencial para uma paz duradoura na região.

Também não aborda a responsabilização ou as reparações pelas mortes e destruição causadas em Gaza durante os dois anos de conflito brutal.

Apesar das falhas no plano, tanto os países da região quanto a população de Gaza, devastada pela guerra, ainda se agarram a uma réstia de esperança de que as negociações em andamento sejam a luz tênue no fim do túnel.

“O povo de Gaza não busca uma vitória militar ou política”, disse Ismail Abu Shar, morador de Deir al-Balah, no centro de Gaza. “Só esperamos que as negociações marquem o início do fim do massacre e da guerra de extermínio”.

Quanto às perspectivas de paz duradoura no Oriente Médio, analistas têm feito uma avaliação mais sóbria.

“Mesmo que Gaza se acalme, os conflitos e animosidades no Líbano, no Mar Vermelho e na Cisjordânia permanecem sem solução”, disse Hussam al-Dajani, analista político palestino baseado em Gaza.

“As chamas ainda queimam, as mortes continuam e o impacto da guerra já se espalhou para além de Gaza há muito tempo. Isso significa que o Oriente Médio caminha para uma instabilidade e um caos ainda maiores”, disse ele.

(Repórteres de vídeo: Zhao Weihong, Sanaa Kamal, Khader Abu Kwaik, Yang Yiran, Yu Fuqing e Yao Bing; edição de vídeo: Zhang Yichi, Hui Peipei e Wu Yao)

Agência Xinhua

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