Por Murad Abdo
Áden, Iêmen – O grupo Houthi do Iêmen anunciou recentemente sanções a algumas das maiores empresas petrolíferas, altos executivos e navios de transporte de petróleo bruto dos Estados Unidos.
A decisão gerou preocupações sobre a segurança e a estabilidade marítimas no Mar Vermelho, um dos corredores de navegação mais importantes do mundo, além de riscos de comprometer o cessar-fogo entre os Estados Unidos e os Houthis.
O QUE ACONTECEU?
O Centro de Coordenação de Operações Humanitárias (HOCC, na sigla em inglês) em Sanaa informou ter sancionado 13 entidades americanas, nove indivíduos e duas embarcações.
O HOCC, que funciona como um órgão de ligação entre as autoridades Houthi e os operadores de navegação comercial e está intimamente ligado à estrutura militar do grupo, anunciou em seu site oficial que as entidades incluídas na lista de bloqueio seriam tratadas “de acordo com o princípio do confronto”.
Entre as entidades designadas pelos Houthis estão as grandes petrolíferas ExxonMobil, Chevron, ConocoPhillips, Phillips 66 e Marathon Petroleum, juntamente com seus principais executivos, acusados de violar um decreto Houthi que proíbe a exportação de petróleo bruto dos EUA.
O HOCC declarou que “empregará todos os meios e instrumentos disponíveis para enfrentar quaisquer medidas hostis tomadas por qualquer Estado ou grupo contra a República do Iêmen, em conformidade com as leis aplicáveis e os regulamentos relevantes”.

POR QUE AGORA?
No mês passado, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções a 32 indivíduos e entidades, e também a quatro embarcações ligadas aos Houthis, alegando que a medida visava interromper as operações de arrecadação de fundos, contrabando e ataques do grupo.
Autoridades Houthis em Sanaa enquadraram suas contra-sanções como ato legítimo de autodefesa, argumentando que Washington agiu primeiro ao colocar na lista de bloqueio empresas, navios e indivíduos iemenitas envolvidos no transporte de suprimentos essenciais para o Iêmen devastado pela guerra.
“Não é razoável nem justo que sejamos submetidos a um bloqueio e sanções, e fiquemos calados diante dessas medidas opressivas”, disse à mídia local, Hamid Abdul-Qader, assessor do governo liderado pelos Houthis.
Ele afirmou que as últimas ações foram tomadas para proteger os direitos do povo iemenita diante da contínua pressão externa.

O CESSAR-FOGO ESTÁ EM RISCO?
As recentes sanções aos Houthis ocorreram poucos meses depois de os representantes do grupo e Washington concordarem com uma trégua mediada por Omã em maio, um acordo que interrompeu dois meses de ataques aéreos americanos no Iêmen. Em troca, os Houthis se comprometeram a parar seus ataques a navios americanos no Mar Vermelho.
Embora as novas medidas Houthis tenham gerado preocupações sobre a durabilidade e o futuro da trégua, autoridades Houthis argumentam que suas sanções estão fora do escopo do acordo.
O membro do Escritório Político Houthi do Iêmen, Mohammed Al-Bukhaiti, disse em um comunicado publicado na plataforma de mídia social X que a decisão do grupo de proibir as exportações de petróleo dos EUA dentro de suas áreas operacionais não viola o cessar-fogo com Washington. Em vez disso, ele a enquadrou como uma contramedida justificada ao que descreveu como bloqueio imposto pelos EUA, restringindo os embarques de combustível para o Iêmen.
Al-Bukhaiti enfatizou que os Houthis não aceitariam uma “equação unilateral”, na qual os Estados Unidos poderiam escalar militarmente e impor pressão econômica sem controle. “Agressão será respondida com agressão, e bloqueio com bloqueio”, alertou ele.
Muqbil Naji, analista político baseado em Áden, disse que, embora os Houthis insistam que suas ações são defensivas, os Estados Unidos podem interpretá-las de forma diferente.
“Se os Houthis forem além das declarações e começarem a atacar ativamente embarcações dos EUA, Washington provavelmente responderá militarmente”, disse Naji, alertando que o grupo está “apostando” com uma paz frágil de uma perspectiva estratégica.
