Por Yan Ran
Nairóbi – Redes portuárias se estendem por todo o continente, painéis solares brilham sob o sol africano e fábricas estão cheias de atividade, essa cena dinâmica captura o cenário em evolução da cooperação industrial China-África. Conforme os dois lados trabalham juntos para estabelecer os alicerces do desenvolvimento por meio da “conectividade física” em infraestrutura e da “conectividade suave” em treinamento de talentos, a industrialização emerge como um poderoso motor impulsionador da modernização da África.
Nos últimos anos, China e África têm aproveitado seus pontos fortes complementares para alcançar resultados tangíveis. Estradas, pontes, aeroportos e portos construídos com a expertise chinesa não estão apenas transformando paisagens locais, mas também integrando os países africanos às redes comerciais regionais e globais. Ao mesmo tempo, iniciativas como as Oficinas Luban e a formação profissional específica para cada setor estão equipando jovens africanos com habilidades práticas, incentivando uma geração de profissionais.
Com usinas solares surgindo em todo o continente, a energia verde está impulsionando a próxima fase do crescimento industrial. Juntas, China e África estão promovendo uma cooperação abrangente, multinível e de alta qualidade, traçando um caminho compartilhado rumo ao desenvolvimento sustentável e à prosperidade.
REMODELANDO O CENÁRIO ECONÔMICO
A conectividade é o pilar do crescimento econômico. Diante de vastos territórios, desenvolvimento desigual e bases industriais fracas, os países africanos estão alavancando a cooperação com a China para promover a coordenação regional.

Em maio, as autoridades camaronesas inauguraram a segunda fase do Porto de Kribi, no sul do país. Construído pela China Harbor Engineering Company Ltd. (CHEC), o Porto de Kribi é o primeiro porto de águas profundas em Camarões e o maior da região da África Central.
“Kribi está passando por uma transformação notável”, disse Patrice Melom, gerente-geral da Autoridade Portuária de Kribi. “Anteriormente, o Porto de Duala só podia receber navios com menos de 10.000 toneladas, mas aqui, atracar navios de 100.000 toneladas agora é padrão”.
O porto superou as expectativas, destacou ele.
Desde a conclusão da primeira fase pela CHEC em 2018, a movimentação de carga do Porto de Kribi de águas profundas cresceu em média 22% ao ano, atraindo mais de 60 empresas e criando mais de 6.000 empregos. Com dois novos berços em operação, a capacidade anual de movimentação do porto atingiu 4,5 milhões de toneladas, consolidando seu papel como um importante polo exportador de commodities a granel, como minério de ferro e cacau, na África Central.
Os portos estão remodelando as economias regionais. Os produtos da fábrica de cerâmica Keda Cameroon, de capital chinês, localizada a cerca de 60 km do porto, podem ser enviados para países vizinhos em até 48 horas após a produção, preenchendo uma lacuna na fabricação de cerâmica em Camarões.
O modelo de integração porto-indústria-cidade está ganhando força não apenas em Camarões, mas também em outras partes da África. Na Península de Lekki, na Nigéria, o Porto de Lekki, o primeiro porto moderno de águas profundas do país construído pela CHEC, e a Zona Franca de Lekki, desenvolvida em conjunto, formam um ecossistema sinérgico.

Chen Ze, gerente-geral da Divisão da África Central da CHEC, afirmou que o desenvolvimento coordenado de infraestrutura e parques industriais é “fundamental para transformar ‘fluxos transitórios’ em ‘acordos duradouros’”. A zona franca, com capacidade anual projetada de 1,2 milhão de unidades equivalentes a 20 pés e um investimento de 2,3 bilhões de dólares americanos, permite que a fabricação local de eletrodomésticos e automóveis realize o “feito na África, vendido globalmente”.
Na Cúpula de Beijing 2024 do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), a China reafirmou seu forte apoio aos esforços da União Africana (UA) para acelerar a integração regional e o desenvolvimento econômico.
Desde a criação do FOCAC, há 25 anos, empresas chinesas supervisionaram a construção e modernização de mais de 10.000 km de ferrovias, quase 100.000 km de estradas, quase 1.000 pontes e cerca de 100 portos na África. Esses projetos aceleraram significativamente a modernização da infraestrutura nos países africanos e promoveram a conectividade econômica e o desenvolvimento coordenados.
EMPODERANDO TALENTOS
Na cidade do Huambo, no centro de Angola, Tomas Dinis, 20 anos, aprendeu com seu instrutor sobre componentes mecânicos no Centro Integrado de Formação Tecnológica (CINFOTEC), doado pela China. Dinis está entre os 76 estudantes do programa de mecatrônica do Instituto de Tecnologia Angola-China. Após um ano e meio de cursos e estudo da língua chinesa, ele espera se qualificar para treinamento avançado e estágios na China.
“Eu adoro mecânica desde criança. Vejo frequentemente produtos eletrônicos chineses nas redes sociais, o que me impressiona muito. Quando soube da oportunidade de estudar na China, me inscrevi imediatamente”, disse Dinis à Xinhua.
O Instituto de Tecnologia Angola-China, parte da iniciativa chinesa de “globalização da educação profissional”, foi criado em conjunto pela Escola Técnica e Profissional de Wenzhou, outras quatro escolas profissionais chinesas e diversas empresas. Inaugurado no CINFOTEC em janeiro de 2025, já formou mais de 2.000 estudantes até o momento.

Foto tirada em 12 de janeiro de 2024 mostra vista externa de um centro de treinamento profissional doado pelo governo chinês na cidade de Huambo, província de Huambo, Angola. (Xinhua/Lyu Chengcheng)
“Nosso instituto está desenvolvendo um sistema de ensino alinhado aos padrões chineses de educação profissional, com o objetivo de formar técnicos qualificados que atendam às necessidades locais”, disse Song Wuyu, professor da Escola Técnica e Profissional de Wenzhou.
Geraldo Pambasange, diretor do CINFOTEC, afirmou que o treinamento profissional é a base do desenvolvimento nacional e que a China tem apoiado firmemente o desenvolvimento de Angola. “Após a guerra civil, precisávamos de reconstrução de infraestrutura e a China veio nos ajudar. Agora, com Angola se esforçando para se industrializar, estamos mais uma vez nos beneficiando da cooperação da China”, acrescentou ele.
A África é o continente mais jovem do mundo. Nos últimos anos, a China fortaleceu a capacitação na África por meio da Iniciativa Cinturão e Rota e do FOCAC. As Oficinas Luban impulsionam ainda mais esse esforço, transformando vantagens demográficas em dividendos para o desenvolvimento e impulsionando a industrialização sustentável em todo o continente.
Fundadas em fevereiro de 2022 em parceria com a Universidade de Antananarivo, a primeira turma de estudantes se formou na Oficina Luban, em Madagascar. Andrianina, formada pelo programa de eletricidade industrial, disse: “Me candidatei para continuar meus estudos na Universidade de Tianjin. A indústria atualmente representa apenas 16% do Produto Interno Bruto de Madagascar. Quero adquirir habilidades profissionais e contribuir com o que for possível para o desenvolvimento industrial do meu país”.
Com a Oficina Luban, métodos de produção antes dependentes de ferramentas manuais e peças artesanais estão sendo gradualmente mecanizados.
“Mesmo uma pequena refinaria de petróleo precisa de máquinas específicas, e todas essas peças podem ser fabricadas com máquinas”, disse Faniry Emile Rakotondrainibe, chefe do programa de engenharia mecânica da Oficina Luban.

Estudantes da disciplina de manutenção automotiva participam de sessão prática na Oficina Luban em Antananarivo, Madagascar, no dia 10 de fevereiro de 2025. (Foto por Sitraka Rajaonarison/Xinhua)
“Essa tecnologia é a base da industrialização de Madagascar”, acrescentou ele.
A ministra do Ensino Superior e Pesquisa Científica de Madagascar, Loulla Chaminah, afirmou que a Oficina Luban aprimora o capital humano do país e promove o desenvolvimento industrial local, oferecendo treinamento de alta qualidade, introduzindo equipamentos de tecnologia avançada e formando jovens engenheiros e técnicos.
SEJA VERDE E CRESÇA MELHOR
Ao meio-dia, o sol brilha intensamente sobre a terra. A cerca de 25 km a sudeste de Kabwe, na província Central da Zâmbia, fileiras de painéis fotovoltaicos brilham sob a luz do sol. O Projeto Solar Fotovoltaico de Kabwe, de 100 megawatts (MW), o maior projeto solar da Power Construction Corporation of China (POWERCHINA) no país, avança de forma constante.
O gerente de negócios do projeto, Li Dongxiang, afirmou que o projeto deverá gerar 180 milhões de quilowatts-hora de eletricidade anualmente, abastecendo de 50.000 a 100.000 residências. “Ao utilizar painéis fotovoltaicos avançados e um sistema de monitoramento inteligente, a eficiência energética é aumentada e os custos operacionais são significativamente reduzidos”, acrescentou ele.
“Dentro de um mês e meio, os moradores que vivem na escuridão terão acesso à eletricidade e suas vidas vão melhorar”, disse o ministro da Energia da Zâmbia, Makozo Chikote, durante visita ao local em março. Chikote afirmou que essas usinas não apenas aliviarão os cortes de energia e impulsionarão o crescimento econômico, mas também abrirão caminho para a independência energética da Zâmbia.
O desenvolvimento verde é o motor duradouro da industrialização da África. “A industrialização verde não é uma opção. É uma necessidade para a modernização da África”, disse Albert Mudenda Muchanga, comissário da UA para o desenvolvimento econômico, comércio, turismo, indústria e minerais.

Foto aérea de drone tirada em 20 de agosto de 2024 mostra vista do Projeto de Energia Solar Térmica Concentrada de Redstone, perto de Postmasburg, na província do Cabo Setentrional, África do Sul. (Xinhua/Zhang Yudong)
Conforme a África avança em direção à industrialização verde, a China está comprometida em apoiar esses esforços. A construção e operação bem-sucedidas de grandes projetos de energia, incluindo a Usina Geotérmica Orpower 22, no Quênia, a Usina Hidrelétrica Kafue Gorge Lower, na Zâmbia, o Projeto de Energia Solar Térmica Concentrada Redstone, na África do Sul, e a Usina Hidrelétrica Karuma, em Uganda, demonstram como a cooperação China-África pode ajudar a aliviar os gargalos de energia, melhorar os padrões de vida e acelerar a transformação industrial do continente.
Essa onda de industrialização verde também está impulsionando novas demandas digitais. Recentemente, a maior fábrica de cabos de fibra óptica da África iniciou suas operações em KwaZulu-Natal, África do Sul, impulsionando significativamente a capacidade de fabricação de fibras ópticas do continente.
Pieter Viljoen, CEO da Yangtze Optics Africa Cable, afirmou que a empresa desenvolveu cabos mais finos e compactos, adaptados às necessidades de banda larga de áreas rurais e empobrecidas na África do Sul. “Isso reduz custos, melhora a durabilidade e garante que comunidades carentes tenham acesso à banda larga confiável”, acrescentou ele.
O secretário-geral das Relações Exteriores do Quênia, no Ministério das Relações Exteriores e da Diáspora, Korir Sing’Oei, afirmou que a parceria China-África é desejável e benéfica, atendendo a aspirações mútuas em meio a mudanças geopolíticas.
“Conforme o Quênia avança na modernização, estamos ansiosos para aprender com as melhores práticas da China. Acredito que outros países africanos farão o mesmo”, acrescentou Sing’Oei.
