Washington – O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciaram na segunda-feira que concordaram com um plano de 20 pontos proposto por Washington para encerrar o conflito em Gaza, apresentando-o como um “passo essencial” em direção a uma paz duradoura em Gaza.
No entanto, ambiguidades e lacunas não resolvidas no plano, combinadas com incertezas em torno da posição do Hamas e a instabilidade interna do governo de Netanyahu, podem prejudicar as esperanças de uma paz duradoura.
QUAL É O PLANO?
O plano proposto pelos EUA combina um acordo de cessar-fogo para reféns, uma retirada israelense gradual e supervisão internacional sobre a reconstrução e governança de Gaza após o fim do conflito.
De acordo com os termos do cessar-fogo, Israel interromperia as ações militares e recuaria para as linhas acordadas. O Hamas, dentro de 72 horas após a aceitação pública por Israel, deve libertar todos os reféns restantes, vivos ou mortos. Em troca, Israel promete libertar prisioneiros e detidos selecionados, enquanto membros desarmados do Hamas que prometerem coexistência pacífica poderão receber anistia ou uma saída segura.
Assim que os reféns forem libertados, ajuda humanitária em larga escala fluirá imediatamente para Gaza para restaurar o fornecimento de água, eletricidade, hospitais e serviços básicos. Um comitê tecnocrático temporário de palestinos, supervisionado por um “Conselho da Paz” internacional, presidido por Trump e apoiado por especialistas globais, administrará a governança diária.
Uma Força Internacional de Estabilização treinará a polícia palestina e ajudará a proteger as fronteiras enquanto Israel se retira em fases, mantendo apenas um perímetro de proteção até que as condições de estabilidade sejam atendidas, recusando explicitamente a anexação ou a ocupação permanente.
Na coletiva de imprensa conjunta na Casa Branca, Trump prometeu que, se o Hamas não aceitar o plano, os Estados Unidos darão “total apoio” ao ataque israelense em Gaza.
Netanyahu disse que o plano atende aos objetivos militares de Israel, ou seja, o retorno de todos os reféns, o desmantelamento das capacidades militares do Hamas e seu regime político, e a garantia de que Gaza nunca mais represente uma ameaça a Israel. No entanto, ele argumentou que a Autoridade Palestina (AP) não pode ter um papel na futura governança de Gaza “sem passar por uma transformação radical e genuína”.

O presidente dos EUA, Donald Trump (esquerda), cumprimenta o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos, em 29 de setembro de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)
PRINCIPAIS LACUNAS
Apesar da acolhida inicial em partes do Oriente Médio, o plano está cheio de ambiguidades e lacunas críticas.
Primeiro, não prevê um cronograma vinculativo ou claro para a retirada total de Israel, uma exigência fundamental do Hamas. A falta de prazos e mecanismos de execução aumentaria ainda mais o risco de retorno à violência cíclica.
Em segundo lugar, o plano permite que Israel mantenha grandes zonas de proteção em Gaza, potencialmente minando a soberania territorial dos palestinos em termos práticos.
Em terceiro lugar, Israel busca manter a Autoridade Palestina fora da reconstrução e governança de Gaza, uma postura que contraria as expectativas de muitos Estados árabes. Analistas alertaram que, sem o envolvimento de atores palestinos importantes, qualquer estrutura de paz será difícil de sustentar.
Em quarto lugar, o plano omite referências explícitas à “solução de dois Estados”. De fato, os governos dos EUA e de Israel se opuseram abertamente à criação de um Estado Palestino. A ausência de um compromisso real e imediato com a criação de um Estado Palestino é vista por muitos observadores como simbólica, em vez de substancial.
Por último, e notavelmente, o Hamas foi excluído da última rodada de negociações e rejeitou publicamente alguns dos termos centrais da proposta.

Tanque israelense opera na Faixa de Gaza em 25 de setembro de 2025. (Foto por Gil Cohen Magen/Xinhua)
INCERTEZAS CONTINUAM
Analistas questionaram se o plano poderia alcançar progressos substanciais no fim do conflito e trazer uma paz duradoura em Gaza, visto que muitas incertezas continuam.
Se o Hamas rejeitar, aceitar condicionalmente ou simplesmente adiar a aceitação, a estrutura poderá ruir antes mesmo de começar.
“Embora o plano seja ambicioso e apoiado por importantes atores regionais, sua questão mais importante continua sem resposta: o Hamas concordará em se desarmar?”, perguntou Joe Truzman, analista sênior de pesquisa da Fundação para a Defesa das Democracias, no site do think tank.
A “retórica e a conduta do Hamas no campo de batalha sugerem o contrário”, observou o pesquisador, aconselhando: “os observadores devem permanecer cautelosos quanto à viabilidade de qualquer acordo de cessar-fogo que deixe a questão do desarmamento sem solução”.
Além disso, a ausência de um cronograma vinculativo e de mecanismos de execução no plano aumenta o risco de implementação ineficaz.
“Detalhes importantes, sem falar na resposta do Hamas, podem decidir se o plano terá sucesso ou se cairá em outro ciclo de ‘sim, mas’”, disse David Makovsky, diretor do Projeto Koret sobre Relações Árabe-Israelenses no Instituto Washington.
Além da posição do Hamas, a política interna de Israel também pode colocar o plano em risco. Netanyahu enfrenta crescentes críticas em casa, com protestos sobre sua condução da guerra de Gaza, julgamentos de corrupção em andamento e crescentes fraturas dentro de sua coalizão.
