Por Zhou Yongsui
Rio de Janeiro – Por ocasião do 20º aniversário da formulação do conceito chinês “águas límpidas e montanhas verdejantes são ativos inestimáveis”, a professora Rubia Cristina Wegner, do Departamento de Ciências Econômicas do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, afirmou em entrevista à Xinhua que, diante das mudanças climáticas globais e da crise ecológica, a filosofia e a prática da China na construção de uma civilização ecológica continuam a oferecer sabedoria e força para a proteção ambiental em todo o mundo.
Wegner destacou que, justamente neste marco dos 20 anos do conceito, a ideia de “convivência harmoniosa entre o homem e a natureza” está altamente alinhada com os três objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Segundo ela, essa filosofia não apenas dialoga com a estratégia chinesa de revitalização rural, mas também converge para as metas de promoção do desenvolvimento verde global.
Na visão de Wegner, a China considera a proteção ambiental como condição prévia para superar gargalos produtivos e tecnológicos. “O entendimento nacional chinês de que para superar gargalos produtivos e tecnológicos a questão ambiental precisa ser solucionada e indicadores sociais, econômicos, ambientais e produtivos precisam caminhar juntos”, enfatizou.
Ela citou como exemplo a criação de um sistema nacional de parques que cobre 230 mil quilômetros quadrados, protegendo habitats de espécies ameaçadas e importantes recursos hídricos; o aumento da cobertura florestal de cerca de 10% em 1980 para mais de 20% em 2020; e o crescimento anual dos recursos destinados à compensação ecológica.
“O objetivo da China é estabelecer um modelo que não coloque economia e ecologia em oposição, mas que as veja como partes de uma mesma equação de desenvolvimento sustentável”, afirmou.
A Convenção sobre Diversidade Biológica foi adotada em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. Como país signatário, o Brasil alcançou avanços nos últimos anos na proteção da Floresta Amazônica: em 2024, a área de desmatamento na região foi mais de 50% menor que no ano anterior. O país também vem impulsionando a bioeconomia amazônica, que movimenta cerca de 1 bilhão de dólares por ano. No entanto, a professora observa que o Brasil ainda enfrenta desafios como incêndios florestais, poluição do solo e extração ilegal de madeira.
Para ela, os conceitos chineses e as metas ambientais do Brasil são altamente convergentes. “A China tem um planejamento estratégico e de longo prazo para a construção de uma civilização ecológica. Desde 2012, essa pauta foi incorporada ao marco nacional de desenvolvimento; no 14º Plano Quinquenal, a neutralidade de carbono foi assumida como meta, juntamente com o uso mais eficiente de recursos e o planejamento territorial para impulsionar a transição verde.”
No plano multilateral, Wegner destacou que Brasil e China, por meio do mecanismo de cooperação do BRICS e do financiamento climático do Novo Banco de Desenvolvimento, já destinaram cerca de US$ 40 bilhões a projetos de energia limpa, proteção ambiental e segurança hídrica.
Ao comentar sobre a 15ª Conferência das Partes da CDB, realizada em 2021 em Kunming, China, Wegner avaliou que o tema “Construir um Futuro Compartilhado para Toda a Vida na Terra” transmite uma mensagem essencial: os desafios ambientais dizem respeito a toda a humanidade e devem ser enfrentados com solidariedade, responsabilidade compartilhada e cooperação multilateral.
“A região da América Latina é estratégica para se estruturar uma efetiva gestão global do clima. No que concerne a seu papel na estabilidade climática e ecológica, abarca cerca de 40% da biodiversidade global e mais de 20% da água doce do planeta”, disse. Segundo ela, para o Brasil e outros países latino-americanos, essa filosofia nos lembra que a biodiversidade e a cultura tradicional devem ser vistas como patrimônio nacional e parte do legado comum da humanidade.
Wegner considera que a experiência da China em restauração ecológica, proteção de espécies e tecnologias verdes é de grande valor para o Brasil. Ela cita o sistema nacional de parques e o desenvolvimento de uma série de tecnologias de baixo carbono, incluindo energia solar, eólica, veículos elétricos e agricultura sustentável. O Brasil, por sua vez, possui abundantes recursos naturais e potencial em energias renováveis, configurando vantagens complementares entre os dois países.
Além disso, segundo Wegner, Brasil e China têm grande potencial no âmbito da cooperação Sul-Sul. “China e Brasil, como líderes do Sul Global, têm grande potencial para fortalecer a cooperação Sul-Sul no combate às mudanças climáticas e na proteção da biodiversidade. Para isso, é fundamental alinhar políticas públicas, especialmente nas áreas de conservação, uso sustentável e inovação tecnológica, criando plataformas bilaterais para troca de experiências e boas práticas.”
Ela enfatizou que, como potências do Sul Global, Brasil e China devem apoiar-se mutuamente nos fóruns multilaterais, formando uma voz comum sobre mudanças climáticas e proteção da biodiversidade, e contribuindo com uma solução Sul-Sul para a governança ambiental global.
