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Práticas ambientais da China continuam contribuindo com sabedoria e força para proteção ecológica mundial, diz professora

Um homem está sentado em um banco no Parque Florestal de Xinzhongjie no distrito de Dongcheng, em Beijing, capital da China, em 28 de agosto de 2020. (Xinhua/Ju Huanzong)

Por Zhou Yongsui

Rio de Janeiro – Por ocasião do 20º aniversário da formulação do conceito chinês “águas límpidas e montanhas verdejantes são ativos inestimáveis”, a professora Rubia Cristina Wegner, do Departamento de Ciências Econômicas do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, afirmou em entrevista à Xinhua que, diante das mudanças climáticas globais e da crise ecológica, a filosofia e a prática da China na construção de uma civilização ecológica continuam a oferecer sabedoria e força para a proteção ambiental em todo o mundo.

Wegner destacou que, justamente neste marco dos 20 anos do conceito, a ideia de “convivência harmoniosa entre o homem e a natureza” está altamente alinhada com os três objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Segundo ela, essa filosofia não apenas dialoga com a estratégia chinesa de revitalização rural, mas também converge para as metas de promoção do desenvolvimento verde global.

Na visão de Wegner, a China considera a proteção ambiental como condição prévia para superar gargalos produtivos e tecnológicos. “O entendimento nacional chinês de que para superar gargalos produtivos e tecnológicos a questão ambiental precisa ser solucionada e indicadores sociais, econômicos, ambientais e produtivos precisam caminhar juntos”, enfatizou.

Ela citou como exemplo a criação de um sistema nacional de parques que cobre 230 mil quilômetros quadrados, protegendo habitats de espécies ameaçadas e importantes recursos hídricos; o aumento da cobertura florestal de cerca de 10% em 1980 para mais de 20% em 2020; e o crescimento anual dos recursos destinados à compensação ecológica.

“O objetivo da China é estabelecer um modelo que não coloque economia e ecologia em oposição, mas que as veja como partes de uma mesma equação de desenvolvimento sustentável”, afirmou.

A Convenção sobre Diversidade Biológica foi adotada em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. Como país signatário, o Brasil alcançou avanços nos últimos anos na proteção da Floresta Amazônica: em 2024, a área de desmatamento na região foi mais de 50% menor que no ano anterior. O país também vem impulsionando a bioeconomia amazônica, que movimenta cerca de 1 bilhão de dólares por ano. No entanto, a professora observa que o Brasil ainda enfrenta desafios como incêndios florestais, poluição do solo e extração ilegal de madeira.

Para ela, os conceitos chineses e as metas ambientais do Brasil são altamente convergentes. “A China tem um planejamento estratégico e de longo prazo para a construção de uma civilização ecológica. Desde 2012, essa pauta foi incorporada ao marco nacional de desenvolvimento; no 14º Plano Quinquenal, a neutralidade de carbono foi assumida como meta, juntamente com o uso mais eficiente de recursos e o planejamento territorial para impulsionar a transição verde.”

No plano multilateral, Wegner destacou que Brasil e China, por meio do mecanismo de cooperação do BRICS e do financiamento climático do Novo Banco de Desenvolvimento, já destinaram cerca de US$ 40 bilhões a projetos de energia limpa, proteção ambiental e segurança hídrica.

Ao comentar sobre a 15ª Conferência das Partes da CDB, realizada em 2021 em Kunming, China, Wegner avaliou que o tema “Construir um Futuro Compartilhado para Toda a Vida na Terra” transmite uma mensagem essencial: os desafios ambientais dizem respeito a toda a humanidade e devem ser enfrentados com solidariedade, responsabilidade compartilhada e cooperação multilateral.

“A região da América Latina é estratégica para se estruturar uma efetiva gestão global do clima. No que concerne a seu papel na estabilidade climática e ecológica, abarca cerca de 40% da biodiversidade global e mais de 20% da água doce do planeta”, disse. Segundo ela, para o Brasil e outros países latino-americanos, essa filosofia nos lembra que a biodiversidade e a cultura tradicional devem ser vistas como patrimônio nacional e parte do legado comum da humanidade.

Wegner considera que a experiência da China em restauração ecológica, proteção de espécies e tecnologias verdes é de grande valor para o Brasil. Ela cita o sistema nacional de parques e o desenvolvimento de uma série de tecnologias de baixo carbono, incluindo energia solar, eólica, veículos elétricos e agricultura sustentável. O Brasil, por sua vez, possui abundantes recursos naturais e potencial em energias renováveis, configurando vantagens complementares entre os dois países.

Além disso, segundo Wegner, Brasil e China têm grande potencial no âmbito da cooperação Sul-Sul. “China e Brasil, como líderes do Sul Global, têm grande potencial para fortalecer a cooperação Sul-Sul no combate às mudanças climáticas e na proteção da biodiversidade. Para isso, é fundamental alinhar políticas públicas, especialmente nas áreas de conservação, uso sustentável e inovação tecnológica, criando plataformas bilaterais para troca de experiências e boas práticas.”

Ela enfatizou que, como potências do Sul Global, Brasil e China devem apoiar-se mutuamente nos fóruns multilaterais, formando uma voz comum sobre mudanças climáticas e proteção da biodiversidade, e contribuindo com uma solução Sul-Sul para a governança ambiental global.

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