Wageningen, Holanda – Para o Dr. Gerrit Smit, veterano holandês em ciência de alimentos, um salto profissional rumo ao desconhecido virou a jornada decisiva de sua carreira.
Após uma década à frente do Centro Europeu de Inovação Yili, Smit recentemente saiu do cargo de liderança, passando o bastão para a colega cientista holandesa dra. Carolien Van Loo. Mas ele não se afastou, continuando como especialista sênior para apoiar o centro que ajudou a construir do zero.
Fundado em 2014 na cidade universitária holandesa de Wageningen, o Centro Europeu de Inovação Yili marcou o primeiro braço de P&D no exterior da gigante chinesa de laticínios Yili Group.
Foi um passo ambicioso para uma empresa chinesa que queria conhecer o ecossistema líder em ciência de alimentos da Europa. Para Smit, também foi o início de uma jornada pessoal e profissional.
O Dr. Gerrit Smit (direita), veterano holandês em ciência de alimentos, trabalha uma com colega no Centro Europeu de Inovação Yili, na Universidade de Wageningen, em Wageningen, Holanda, no dia 19 de junho de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
CONSTRUINDO PONTES E CIÊNCIA
“Quando comecei, não tinha nada, nem a equipe, nem o laboratório, nem mesmo a estratégia”, disse Smit à Xinhua em entrevista recente. “Foi um desafio, mas também uma oportunidade de construir algo internacional”.
Com formação em microbiologia molecular e bioquímica, Smit ocupou cargos de liderança na Unilever, na empresa finlandesa de laticínios Valio e no instituto holandês de pesquisa de alimentos NIZO. Ele também trabalhou na academia pela Europa e nos Estados Unidos, incluindo períodos na Universidade de Wageningen, na Universidade de Leiden e na Universidade do Tennessee.
Mas entrar em uma empresa chinesa era um território novo, assim como atuar como ponte cultural entre o Oriente e o Ocidente.
Sob a liderança de Smit, o centro virou um polo de colaboração sino-europeia, produzindo avanços tangíveis na ciência do leite. Uma de suas conquistas mais notáveis: o desenvolvimento de fórmulas infantis de última geração enriquecidas com oligossacarídeos do leite humano (HMOs) e probióticos. Essas formulações, criadas em parceria com a Universidade de Wageningen e outras instituições de pesquisa, conquistaram diversas patentes.
O centro também liderou inovações em queijos personalizados para o mercado chinês, produtos que combinam o artesanato europeu com os sabores locais. “Ver um queijo feito com métodos europeus ser apreciado por chineses é gratificante”, disse Smit.
Além do desenvolvimento de produtos, o centro se aprofundou em áreas como probióticos, segurança alimentar e inteligência artificial, frequentemente em colaboração com importantes órgãos de pesquisa europeus.
Funcionários trabalham no Centro de Inovação Europeu do Grupo Yili da China, na Universidade de Wageningen, em Wageningen, Holanda, no dia 19 de junho de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
DÉCADA DE CRESCIMENTO E RECONHECIMENTO MÚTUO
A década de Smit na Yili coincidiu com uma era de cooperação acelerada entre a China e a Europa no setor de laticínios. Ele observou a complementaridade natural entre elas: a Europa tem muito conhecimento científico e patrimônio industrial, e a China tem escala de mercado, agilidade e vontade de inovar.
“Onze anos atrás, os especialistas europeus sabiam pouco sobre as empresas de laticínios chinesas”, disse ele. “Agora, há um reconhecimento crescente de suas capacidades de inovação e impacto global. Ao mesmo tempo, as empresas chinesas estão ajudando a revigorar partes do ecossistema de laticínios europeu”.
Uma das contribuições do centro foram seus programas de bolsas de estudo e estágios, que apoiaram mais de 50 jovens pesquisadores de toda a Europa, incluindo Alemanha, França, Espanha e Holanda. “Viramos uma incubadora para a próxima geração de cientistas do setor de laticínios”, disse Smit.
Ele também presenciou a notável ascensão da Yili na indústria global de laticínios, de estar no top 10 global em 2014 para ficar no top 5 em 2020.
Smit observou que, com base em sua experiência com empresas, atingir uma taxa de crescimento anual de 1% a 2% já é impressionante. “Mas na Yili, vi um crescimento de dois dígitos”.
O rápido crescimento de empresas chinesas como a Yili não se reflete apenas em termos de resultados comerciais, mas também alimentou uma necessidade crescente de inovação, acrescentou ele.
Smit ficou emocionado com o comprometimento da Yili durante a pandemia de COVID-19. “Enquanto muitas empresas europeias suspenderam os investimentos, a Yili construiu um laboratório de última geração, o que demonstrou uma verdadeira visão de longo prazo”.
Foto de arquivo sem data mostra linha de produção inteligente e digitalizada no Vale de Saúde Moderno e Inteligente da Yili, no Tumd Left Banner, em Hohhot, Região Autônoma da Mongólia Interior, norte da China. (Grupo Yili/Divulgação via Xinhua)
DESCOBRINDO A CHINA, UMA VIAGEM POR VEZ
Antes de entrar na Yili, Smit nunca havia ido à China. Na última década, ele já viajou até seis vezes por ano ao país, de Beijing e Shanghai a Hohhot, na Mongólia Interior. Cada visita trazia novas surpresas, desde trens-bala e fazendas leiteiras inteligentes até paisagens urbanas extensas que surgiam muito rapidamente.
“O mais impressionante foi a velocidade da transformação”, disse ele. “Você visitava uma cidade e, poucos meses depois, ela estava quase irreconhecível”.
Uma memória se destaca: estar nas planícies da Mongólia Interior, em frente a uma yurt tradicional, cercado por uma vegetação vibrante. “Naquele momento, entendi que as imagens nos vídeos promocionais da Yili não eram marketing, mas reais”, disse ele. “A China não está apenas se modernizando rapidamente, está fazendo isso com muito respeito pelo meio ambiente”.
Dos laboratórios de Wageningen às estepes da Mongólia Interior, a jornada de uma década de Smit reflete mais do que apenas sucesso profissional. É uma história de colaboração intercultural, descoberta científica e crescimento pessoal.
Para Smit, o que começou como um desafio virou um capítulo muito gratificante da vida, conectando continentes, culturas e indústrias. “Esta experiência é um dos maiores presentes da minha carreira”, disse ele.
