Beijing – A Faixa de Gaza, lar de mais de dois milhões de palestinos, sofreu décadas de violência, bloqueio e sofrimento. Em resposta a esse sofrimento de longa data, a mais recente proposta de Washington para realocar os palestinos de Gaza faz pouco para aliviar a crise. Em vez disso, só promete mais dificuldades, deslocamentos e perdas.
Durante coletiva de imprensa na terça-feira com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos planejam assumir a Faixa de Gaza. “Vejo uma posição de propriedade de longo prazo”, disse ele.
Sugerir a realocação de palestinos de suas casas não só é equivocado, mas é um erro de cálculo grave com potenciais violações do direito internacional.
O que Gaza precisa urgentemente não é de migração forçada, mas de ajuda humanitária e um esforço robusto na reconstrução pós-conflito, esforços terrivelmente ausentes nos anos de conflitos implacáveis.
A solução de dois estados continua sendo o único caminho para uma paz justa e duradoura, que respeite a dignidade e os direitos de israelenses e palestinos. Infelizmente, a proposta de Washington ameaça minar esse mesmo princípio, arriscando mais desestabilização em uma região que já está à beira do colapso.
Não é surpresa que essa sugestão tenha atraído condenação rápida e generalizada de todo o mundo. Os países árabes, em particular, a rejeitaram completamente. Hussein al-Sheikh, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), deixou claro que a OLP “rejeita categoricamente todos os apelos para deslocar nosso povo de sua terra natal”. O Hamas concordou com isso, alertando que essa retórica só aumentará as tensões na região e consolidará o controle dos EUA e de Israel sobre Gaza.
Em uma reunião com o primeiro-ministro palestino Mohammad Mustafa na quinta-feira, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul-Gheit, reafirmou que a proposta dos EUA foi firmemente rejeitada pelos países árabes.
A reação internacional se estende além dos países árabes. O ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, descreveu a proposta como “inaceitável” e fundamentalmente falha, enquanto a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, alertou que essas medidas só levarão a “novo sofrimento e mais ódio”. Da mesma forma, o Ministério das Relações Exteriores da França chamou o deslocamento forçado de palestinos de uma violação “séria” do direito internacional e um “ataque às aspirações legítimas dos palestinos”.
Alguns meios de comunicação apontaram que a proposta dos EUA pode resultar de motivações políticas que visam usá-la como moeda de troca para pressionar os palestinos a fazer concessões em questões territoriais.
No entanto, conforme destacado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, na busca pela paz, piorar o problema não é solução. “É essencial continuar fiel à base do direito internacional”, disse Guterres na quarta-feira.
Gaza não pode virar outra moeda de troca em jogos geopolíticos. É hora de Washington reconhecer essa realidade e trabalhar em direção a uma solução que respeite os direitos de todos os povos da região.
