Por Luca Valente
Beijing – Em 2024, China e Brasil celebraram meio século de relações diplomáticas. O estabelecimento formal das relações em 15 de agosto de 1974 abriu caminho para uma parceria estratégica que se fortalecerá nas últimas décadas, marcada por uma trajetória de avanços avançados.
O Brasil tornou-se, em 1993, pioneiro ao estabelecer uma parceria estratégica com a China. Em 2004, foi um dos primeiros países a considerar a China como economia de mercado e, em 2012, foi o primeiro país da América Latina e Caribe a estabelecer uma parceria estratégica estratégica. Esta parceria, impulsionada por um compromisso de cooperação prática, alcançou saltos notáveis em diversas áreas.
Neste ano de 2024, quando China e Brasil anunciaram a elevação dos laços bilaterais de parceria estratégica abrangente para uma “comunidade de futuro compartilhada China-Brasil por um mundo mais justo e um planeta mais sustentável”, torna-se certamente oportuno e indubitavelmente relevante sobre os principais destaques desta grande sinergia, focando nas áreas de maior destaque: comércio, investimento, ciência e tecnologia e cultura e educação.
COMÉRCIO
O comércio entre China e Brasil é uma das áreas de brilho intenso. Quando os dois países estabeleceram laços diplomáticos há 50 anos, o valor do comércio bilateral era de apenas US$ 17,4 milhões. Em 2023, a cifra chegou a US$ 181,53 bilhões, crescendo mais de 10 mil vezes em valor nominal. Em 2009, a China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil e tem mantido o título até hoje. O Brasil é o maior parceiro comercial da China na América Latina. Segundo dados da Administração Geral das Alfândegas (AGA) da China, o país importou mais de US$ 100 bilhões do Brasil anualmente nos últimos três anos, batendo recordes seguidos.
Conforme dados da AGA, o comércio da China com o Brasil cresceu anualmente 9,9% nos primeiros 10 meses de 2024, atingindo 1,14 trilhão de yuans (US$ 158,33 bilhões). A taxa de crescimento foi 4,7 pontos percentuais superior à taxa de crescimento geral do comércio exterior da China, sustentando o aprofundamento dos laços econômicos e comerciais entre os dois países.
O Brasil, com sua vasta produção agrícola e recursos naturais, destaca-se como um importante fornecedor de commodities para a China, atendendo à crescente demanda do país asiático por alimentos e materiais primários. A soja brasileira, por exemplo, é essencial para a produção de óleo de soja, farelo de soja e alimentos na China. Da mesma forma, o minério de ferro de alta qualidade do Brasil alimenta a indústria siderúrgica chinesa, o que sustenta o crescimento da construção civil e de outros setores. O petróleo bruto brasileiro também desempenha um papel importante na matriz energética chinesa, complementando as necessidades do país.
Por outro lado, o Brasil se beneficia do acesso a produtos fabricados chineses de alta qualidade e preços competitivos, como smartphones, computadores e TVs, atendendo às necessidades dos consumidores. Máquinas e equipamentos chineses, utilizados em diversos setores da economia, reservados para a modernização da indústria e da infraestrutura brasileira.
Acordos comerciais e a participação em fóruns multilaterais, como o BRICS, o G20 e o OMC, reforçam o compromisso da China e do Brasil em fortalecer a parceria comercial e promover o desenvolvimento econômico e social de ambos os países, além de outros. O diálogo constante e a busca por soluções conjuntas para os desafios do comércio internacional têm sido fundamentais para garantir uma relação comercial próspera e mutuamente benéfica.
INVESTIMENTO
O investimento chinês no Brasil tem se tornado cada vez mais relevante, impulsionando o desenvolvimento de setores estratégicos e a cooperação bilateral. As empresas chinesas têm direcionado seus investimentos para áreas-chave da economia brasileira, com foco em infraestrutura, agronegócio e tecnologia, contribuindo desta forma para a modernização e o crescimento do país.
No setor de infraestrutura, os investimentos chineses têm sido fundamentais para a melhoria dos portos, ampliando a capacidade de exportação e importação; e de matrizes de energia, como a construção de usinas hidrelétricas e eólicas, garantindo o fornecimento de energia para a população e para as indústrias, impulsionando assim o crescimento econômico.
O agronegócio brasileiro também atrai investimentos chineses, com foco na produção e exportação de produtos agrícolas. Empresas chinesas investem em áreas como produção de soja, carne bovina e cana-de-açúcar, contribuindo para o aumento da produtividade e da competitividade do setor. Esses investimentos geram empregos e renda no campo, impulsionando o desenvolvimento das regiões agrícolas.
A tecnologia é outra área que tem atraído investimentos chineses no Brasil. Através do investimento por empresas chinesas em setores como telecomunicações, energia renovável e tecnologia da informação, contribui-se para a modernização da infraestrutura tecnológica e para o desenvolvimento de novas soluções e serviços, trazendo-se ainda, conhecimento e inovação para o país.
Para organizar e facilitar esses investimentos, em 2017 Brasil e China realizou o Fundo Brasil-China de Cooperação para a Expansão da Capacidade Produtiva (CBC-FUNDO). Esse fundo financia projetos conjuntos em diversas áreas, como infraestrutura, energia, agricultura e tecnologia, promovendo o desenvolvimento econômico e social de ambos os países. O fundo estimula a cooperação e a transferência de tecnologia, contribuindo para o crescimento sustentável e a geração de empregos.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
A colaboração estratégica entre China e Brasil em ciência e tecnologia tem sido mostrada um campo fértil para o desenvolvimento conjunto e a busca por soluções inovadoras. Um dos exemplos mais emblemáticos dessa cooperação é o Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres (CBERS), que é conhecido como um modelo de “cooperação Sul-Sul” e pioneiro na cooperação aeroespacial entre países em desenvolvimento. Fruto de um esforço conjunto entre cientistas e engenheiros brasileiros e chineses, o programa CBERS testemunhou o lançamento bem-sucedido de cinco satélites. O programa tem aplicações diversas, como o monitoramento ambiental, o mapeamento de recursos naturais e o monitoramento de desastres naturais. O programa CBERS não só fortalece a capacidade de observação da Terra de ambos os países, mas também serve como modelo de cooperação científica e tecnológica do Sul Global.
A cooperação em energia renovável é outra área promissora na parceria China-Brasil. Ambos os países possuem grande potencial para o desenvolvimento de fontes de energia limpa e sustentável, como a energia solar, eólica e biomassa. A troca de conhecimentos e tecnologias entre os dois países nessa área deve acelerar a transição para uma matriz energética mais limpa, contribuindo para o combate às mudanças climáticas e para que ambos os países possam atingir os valores de emissão de carbono comprometidos no Acordo de Paris de Paris 2015.
Outros destaques no campo da colaboração incluem a biotecnologia, com foco em pesquisa agrícola e desenvolvimento de medicamentos, e a tecnologia da informação e comunicação, com ênfase em inteligência artificial e redes de telecomunicações. A cooperação em inteligência artificial, por exemplo, pode levar ao desenvolvimento de soluções para problemas complexos em áreas como saúde, educação e segurança pública.
CULTURA E EDUCAÇÃO
O intercâmbio cultural e educacional é um pilar essencial na relação China-Brasil, promovendo o conhecimento mútuo e laços duradouros entre os povos. Através de programas de intercâmbio, institutos de língua e cultura, eventos culturais e turismo, ambos os países constroem pontes que aproximam suas sociedades.
Programas de intercâmbio de estudantes e professores permitem que jovens brasileiros e chineses experimentem a vida e a cultura um do outro, formando uma nova geração de líderes com visão global. Os Institutos Confúcio, apresentam em diversas cidades brasileiras, difundem a língua e a cultura chinesa, proporcionando aos brasileiros a oportunidade de conhecer mais sobre a China.
Eventos culturais, como festivais de cinema e exposições de arte, também aproximam os povos brasileiro e chinês, promovendo o diálogo intercultural e a apreciação da diversidade. O turismo, por sua vez, tem se tornado uma forma cada vez mais popular de intercâmbio cultural, permitindo que os viajantes conheçam de perto a cultura e as belezas naturais de cada país.
À medida que a China e o Brasil celebram cinco décadas de relações diplomáticas, é possível vislumbrar um futuro promissor no qual a cooperação cultural continuará a desempenhar um papel central na construção de amizade e aprendizagem mútua entre os povos. A China e o Brasil concordaram em designar 2026 como o Ano da Cultura China-Brasil para fortalecer os laços culturais e aumentar a compreensão mútua entre os dois povos.
As comemorações dos 50 anos de relações China-Brasil são uma oportunidade para fortalecer laços e buscar uma parceria mais equilibrada e mutuamente benéfica. Diálogo e cooperação são essenciais para superar desafios e construir um futuro promissor. A cooperação sino-brasileira em áreas como comércio, investimento, ciência, tecnologia, energia renovável e cultura demonstra o potencial da parceria. Para que a relação prospere, China e Brasil devem aprofundar a cooperação e enfrentar os desafios globais juntos.