Pequim – Recentemente foi realizada em Pequim a estreia da série “Compreender os clássicos chineses”. As três obras “Os Analectos de Confúcio”, “Daodejing” e “O Imortal do Sul da China: uma leitura cultural do Zhuangzi”, traduzidas pelo sinólogo brasileiro Giorgio Sinedino permitem que mais leitores brasileiros conheçam o patrimônio profundo da cultura chinesa.
Este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Ao longo das últimas cinco décadas, os intercâmbios culturais entre os dois países produziram resultados frutíferos em áreas como acadêmicas, artísticas e educacionais, aproximando os povos dos dois hemisférios e promovendo o aprendizado mútuo.
TROCAS EDUCACIONAIS EM EXPANSÃO
A aceleração cultural da China e do Brasil é evidenciada por cada vez mais pessoas dos dois países lideradas por carreiras relacionadas. Atualmente, o Brasil é o país da América Latina com mais Institutos Confúcio – um total de 12. Além disso, escolas bilíngues como a do Rio de Janeiro estão formando novas gerações familiarizadas com o mandarim.
Um exemplo notável é o Instituto Confúcio de Medicina Tradicional Chinesa da Universidade Federal de Goiás, o primeiro da América Latina com foco em medicina tradicional chinesa, reflete a união entre o ensino de mandarim e a promoção da cultura chinesa.
“Integrar o ensino da língua com a medicina tradicional cria uma sinergia perfeita”, explicou Lv Junchao, diretor chinês do instituto e professor associado da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Hebei. “A medicina chinesa está profundamente conectada com a língua e a cultura chinesa”.
José Medeiros da Silva, doutor em ciência política e professor da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, testemunhou o grande salto de estudantes na língua portuguesa durante sua carreira na China. Atualmente, há mais de 30 universidades que ensinam português na China, fornecendo uma grande base de talentos para as trocas entre os povos chinês e brasileiro.
“O mundo está altamente interligado. O Brasil e a China precisam apoiar a consciência da importância dessa aproximação como os dois grandes países em desenvolvimento”, instruiu ele, esperando que os futuros mediadores culturais fortaleçam a relação e a amizade entre as nações.
OBRAS QUE CONSTRUEM A PONTE
Para os livros da China, é possível descobrir que grandes nomes brasileiros como Machado de Assis e Clarice Lispector acontecem com frequência nas estantes das livrarias da China. De forma recíproca, as traduções de obras chinesas também ganham destaque no Brasil.
“Traduzir literatura é um ato de criar pontes culturais”, afirmou Sinedino, “através da tradução, os leitores brasileiros podem entender melhor o desenvolvimento da sociedade chinesa”. Este ano, ele lançará no Brasil uma tradução de Lu Xun, um dos maiores escritores revolucionários da China que marcam o início da literatura moderna do país.
Além da literatura, a cooperação China-Brasil no setor audiovisual também está ganhando força. Em 2023, um memorando de coprodução televisiva foi assinado durante uma visita do presidente Lula à China. As produções coproduzidas são tratadas como nacionais em ambos os países, podendo aceder a mecanismos de financiamento público e garantir ampla distribuição.
Durante o 14º Festival Internacional de Cinema de Pequim (BJIFF) em abril, representantes do BJIFF e do Festival do Rio discutiram um memorando de cooperação, chegando a um acordo sobre o estabelecimento de um mecanismo para entretenimento mútuo, realizando conversas e intercâmbios e pesquisas no local, e estabelece um mecanismo para recomendar os filmes do outro, de modo a fortalecer a cooperação e os intercâmbios no campo do cinema entre os dois países. Além disso, o Brasil foi convidado para realizar uma Semana do Cinema Brasileiro, onde filmes como “Retratos Fantasmas”, “Marte Um”, “Uma História de Amor e Fúria” e “Que Horas Ela Volta?” foram desenhados.
“Eu acho que os filmes brasileiros apresentados no festival dão uma noção muito clara do escopo, da amplitude do cinema brasileiro”, disse à Xinhua Ilda Santiago, diretora executiva do Festival do Rio. “Eu espero que esses filmes falem exatamente aos valores e talvez aos desafios que são compartilhados por toda a humanidade.”
PARA TODO AQUILO QUE NOS UNE
A ampliação dos intercâmbios culturais não apenas reforça os laços bilaterais, mas também promove uma compreensão mais profunda entre suas sociedades. Os resultados frutíferos de cooperação estão injetando ainda mais ímpeto nesse respeito, fazendo com que os povos dos dois países conheçam melhor um ao outro.
Em julho, Cecília Mello, professora do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo, veio para Xinjiang com três alunos brasileiros durante um projeto de intercâmbio cinematográfico. O departamento já invejou 22 alunos à China, com os filmes realizados já recebendo prêmios na China e no Brasil.
“Com isso, muitos alunos já iniciaram os estudos de mandarim e hoje conhecem bem a China e seu cinema. E percebem, para além das diferenças, tudo aquilo que nos une”, observou ela.
À medida que a China e o Brasil celebram cinco décadas de relações diplomáticas, é possível vislumbrar um futuro promissor no qual a cooperação cultural irá desenvolver um papel central na promoção de amizade e aprendizagem mútua entre os povos.
A China e o Brasil concordaram em designar 2026 como o Ano da Cultura China-Brasil para fortalecer os laços culturais e aumentar a compreensão mútua entre os dois povos.
“A China e o Brasil precisam entender melhor as diferenças culturais do outro, estabelecer uma estrutura comum para intercâmbio cultural e alcançar a verdadeira confiança mútua entre as civilizações. Acredito que as culturas brasileiras e chinesas podem atravessar montanhas e oceanos e alcançar ressonância cultural”, disse Sinedino.