Rio de janeiro – Especialistas de países abordaram na quarta-feira em um seminário no Rio de Janeiro a necessidade de reorientar os fluxos financeiros globais para mitigar os riscos climáticos e conservar o capital natural, em um evento no âmbito da reunião do Grupo de Trabalho sobre Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20, que será realizada nesta quinta-feira na cidade do Rio de Janeiro.
Intitulado “Finanças hoje para o nosso amanhã: reorientar as finanças para a sustentabilidade ambiental”, os participantes enfatizaram a necessidade de introduzir mudanças no sistema financeiro global em um planeta cada vez mais suscetível a eventos climáticos extremos, como grandes inundações ou a seca severa como a que o Brasil está sofrendo atualmente.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enfatizou a necessidade de reconsiderar a centralidade da natureza nas decisões financeiras globais e defendeu a criação de uma nova estrutura regulatória para a natureza e o clima.
“A crise climática, a perda de biodiversidade, a desertificação e todos os problemas que vivemos mostram em três dimensões que chegaram a hora de pensar que o uso que fazemos das finanças naturais, do capital natural, também precisa de um apoio. E é impossível Não perceberemos que esse fardo não pode ser ultrapassado, caso contrário criaremos o risco de riscos sistêmicos, o que seria uma espécie de Armagedom, o colapso da própria natureza”, afirmou Silva.
O ministro brasileiro afirmou ainda que as crises servem para nos lembrar que a sustentabilidade da economia e o bem-estar humano estão diretamente ligados à preservação do capital natural.
Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, cerca de metade do PIB mundial depende forte ou moderadamente da natureza.
Por sua vez, em uma participação por vídeo, a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, destacou o papel dos povos indígenas na proteção da natureza e sublinhou a necessidade de reorientar os fluxos financeiros para ajudá-los a conservar o capital natural. Apesar de serem responsáveis pela conservação de 80% da biodiversidade mundial, os indígenas recebem apenas 1% do financiamento climático, disse ela.
A representante da França na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Amélie de Montchalin, abordou a desconexão entre as pessoas, a natureza e as finanças. Ex-ministro da Transição Ecológica do país europeu, ela defendeu o alinhamento de fundos públicos e privados e criticou regulamentações financeiras que penalizam investimentos em projetos climáticos.
Por sua vez, a Secretária de Assuntos Internacionais do Ministério das Finanças, Tatiana Rosito, apresentou os resultados do Grupo de Trabalho sobre Finanças Sustentáveis (SFWG) e do Grupo de Trabalho sobre Clima do G20. Rosito afirmou que é necessário aumentar o financiamento climático, com foco no financiamento misto, para integrar o setor privado nas ações de adaptação e mitigação.
O representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Ivo Mulder, apresentou exemplos de boas práticas na valorização da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, mostrando os benefícios da utilização desses ativos nas decisões financeiras para o mercado.
Por sua vez, o presidente da Confederação Brasileira de Seguros (CNSeg), Dyogo Oliveira, destacou que as seguradoras ainda precisam entender melhor os riscos relacionados aos fatores ambientais na hora de definir os preços dos produtos de seguros.