China-Moçambique: Uma parceria estratégica em evolução rumo a 2030

A cooperação entre Moçambique e a República Popular da China é um testemunho de solidariedade, desenvolvimento conjunto e respeito mútuo. Ao longo das últimas décadas, esta relação se consolidou por meio de projetos estruturantes que marcaram e continuam a marcar o progresso nacional.

Exemplos notáveis incluem a Ponte Maputo-Katembe, uma das maiores da África Subsaariana, e a Barragem de Mpanda Nkuwa, atualmente em fase de desenvolvimento, que promete reforçar a capacidade energética nacional.

Segundo o analista político, Gil Aníbal, o balanço é amplamente positivo. A China tem sido uma parceira consistente, oferecendo apoio técnico, financeiro e estratégico num momento em que Moçambique precisa acelerar o crescimento, assinala Aníbal.

“Os maiores sucessos incluem a melhoria da conectividade territorial, o reforço da infraestrutura energética e o início de uma reconfiguração económica orientada para o desenvolvimento sustentável.

Entre as lições aprendidas, destaca-se a necessidade de garantir maior participação local nos projetos, desde a mão-de-obra até às empresas envolvidas, e assegurar que os investimentos tenham impacto direto nas comunidades.

“Temos agora maior consciência de que qualquer parceria precisa priorizar o valor local, a capacitação e a sustentabilidade a longo prazo”, reforça o analista.

Parceria mais equilibrada e diversificada

O presidente da República, Daniel Chapo, numa entrevista recente ao Grupo de Mídia da China (CMG), frisou a importância de setores como a agricultura inteligente e a economia azul. Essa nova visão demonstra uma clara intenção de mover Moçambique de uma posição de exportadora de recursos para uma economia produtiva e diversificada.

Moçambique, com seus 2,7 mil quilômetros de costa e vastas extensões de terras férteis, tem potencial para se tornar líder regional nesses dois domínios estratégicos. Com apoio chinês, é possível transformar esse potencial em resultados concretos.

Gil Aníbal recomenda os seguintes passos práticos: criação de zonas de processamento de pescado e produtos agrícolas junto às áreas de produção, com tecnologia chinesa e gestão local; transferência de know-how em aquacultura e técnicas agrícolas de precisão, já aplicadas com sucesso em várias províncias chinesas; financiamento e formação de cooperativas locais, permitindo que o valor agregado permaneça nas comunidades; e implementação de plataformas digitais para o comércio de produtos agrícolas e marinhos, facilitando o acesso aos mercados internacionais, uma área em que a China tem liderado globalmente.

“O segredo está em evitar a armadilha da exportação de matéria-prima bruta. O modelo chinês mostra que é possível desenvolver indústrias de transformação rentáveis e sustentáveis a partir de recursos naturais”, afirma Gil.

Internalizando o Modelo das Zonas Económicas Especiais (ZEE)

O elogio de Chapo ao modelo de Shenzhen não é acidental. A transformação daquela região, de uma vila piscatória para um centro tecnológico global, é um exemplo inspirador.

Moçambique já deu os primeiros passos com zonas como a de Nacala e Manga-Mungassa, mas é essencial adaptar o modelo chinês às condições locais. Gil Aníbal identifica os elementos essenciais: infraestruturas de qualidade (estradas, energia, telecomunicações), ambiente regulatório previsível e com menos burocracia, e incentivos à inovação e à formação técnica da mão-de-obra.

“As Zonas Económicas Especiais (ZEE) devem ser centros de excelência, com gestão profissional e metas de desempenho claras, à semelhança do que ocorreu na China”, elenca Aníbal.

Lições da China no desenvolvimento e combate à pobreza

A experiência chinesa de retirada de mais de 700 milhões de pessoas da pobreza é uma referência incontornável. Gil Aníbal salienta que as pequenas e médias empresas (PME) rurais, o comércio digital e o turismo comunitário foram peças-chave nesse sucesso.

Em Moçambique, é possível replicar essa experiência com: criação de hubs rurais de inovação com suporte chinês; fomento ao e-commerce agrícola, através de plataformas móveis locais inspiradas em soluções como o Alibaba Rural; promoção de roteiros de turismo comunitário com investimento em infraestruturas e capacitação, à imagem de projectos como os das aldeias-modelo na China.

“Com vontade política e visão estratégica, essas soluções podem ter impacto transformador em províncias como Cabo Delgado, Zambézia ou Niassa”, sublinha Gil.

A Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) representa uma oportunidade histórica para o país se alinhar com cadeias globais de valor. A visão do analista para 2030 é clara: “Uma parceria China-Moçambique centrada na industrialização inclusiva, com foco em energias renováveis, economia azul e agricultura digitalizada”.

Como “game-changer”, destaca-se a criação de um Parque Industrial Integrado para Transformação Agroalimentar, em parceria com empresas chinesas, junto a uma ZEE. Esse projeto, se bem implementado, poderia aumentar o emprego rural, substituir importações, estimular exportações com valor agregado e reduzir a dependência a mega projetos extrativos.

“A China mostrou ao mundo que é possível crescer rápido, mas com inclusão. Moçambique tem agora a oportunidade de adaptar esse caminho ao seu contexto, com pragmatismo e ambição”, acredita Aníbal.

CRI Português

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Voltar ao topo