A África do Sul abriu um processo na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em 29 de dezembro de 2023, acusando Israel de cometer um genocídio contra o povo palestino. Em 26 de janeiro de 2024, a CIJ emitiu uma ordem em relação ao pedido de medidas provisórias, na qual ordenou que Israel tomasse todas as medidas para prevenir e punir incitamento ao genocídio e que informasse a Corte sobre estas em um prazo de um mês.
Existe ou não genocídio na Faixa de Gaza? Quais são as consequências dos atos dos Estados Unidos de abrigar e promover o assassinato em massa de civis? Recentemente, John J. Mearsheimer, acadêmico dos Estados Unidos renomado das relações internacionais, publicou um artigo no seu site pessoal sobre o processo da África do Sul contra Israel. São as seguintes as principais observações do Mearsheimer:
I. A petição da África do Sul é abrangente e bem-argumentada
O documento deu descrição completa do genocídio cometido por Israel na Palestina em três aspectos:
Primeiro, descreve em detalhes os horrores que as Forças de Defesa de Israel infligiram aos palestinos desde 7 de outubro de 2023 e dá explicação sobre por que mais morte e destruição estão reservadas para os palestinos.
Segundo, fornece dez páginas de evidências e mostram que os líderes israelenses têm intenção genocida contra os palestinos. As falas dos líderes israelenses—todas documentadas—são realmente chocantes, e fazem lembrar como os nazistas falavam sobre os judeus no Holocausto contra estes durante a Segunda Guerra Mundial.
Terceiro, coloca o atual conflito palestino-israelense em um contexto histórico mais amplo e cita numerosos relatórios da ONU, deixando claro que Israel tem tratado os palestinos em Gaza como animais enjaulados há muitos anos, e que o que os israelenses têm feito em Gaza desde 7 de outubro é uma versão mais extrema do que já faziam ao longo dos anos passados.
A petição da África do Sul reúne pela primeira vez todos os fatos em um só documento, apresentando o panorama sem negligenciar os detalhes. De fato, é difícil para Israel se defender. Afinal de contas, os fatos brutos são difíceis de rebater.
II. O processo da África do Sul terá impacto de longo alcance aos Estados Unidos e Israel
Primeiro, o genocídio é diferente de outros crimes de guerra. Por exemplo, o bombardeio que o Reino Unido e os Estados Unidos fizeram às cidades alemãs e japonesas durante a Segunda Guerra Mundial trata-se de um crime de guerra, em vez de genocídio, porque não estava tentando destruir uma parte substancial ou toda a população dos estados-alvo. Nos dois primeiros meses do atual conflito, Israel era culpado de graves crimes de guerra. Mas após o fim da trégua de novembro de 2023, havia cada vez mais evidências de “intenção genocida” por parte dos líderes israelenses, as quais comprovam que estes estavam de fato tentando destruir fisicamente uma porção substancial da população palestina em Gaza.
Segundo, mesmo declarando que os Estados Unidos “não farão nada além de proteger Israel”, o presidente norte-americano Joe Biden, junto com o seu governo, passaram por cima do Congresso por duas vezes, para realizar o envio rápido de armamentos adicionais para Israel. Isso tornou o governo Biden cúmplice do genocídio de Israel em Gaza e o ato dele punível conforme a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio.
Terceiro, é verdade que Israel é formado por sobreviventes do Holocausto e seus descendentes, mas com crimes tão graves cometidos, o país será sempre considerado o principal responsável por um dos casos mais canônicos de genocídio.
Quarto, levando em conta que o poder das cortes internacionais de coagir países como Israel e os Estados Unidos é extremamente limitado, será um longo período para pôr fim ao genocídio cometido por Israel.
Quinto, é uma vergonha que a maioria da imprensa ocidental tenha optado por permanecer em silêncio diante da atrocidade genocida. Os Estados Unidos se consideram uma democracia liberal e são um país repleto de editores de jornais, formuladores de políticas, especialistas e acadêmicos que sempre proclamam profundo compromisso com a proteção dos direitos humanos em todo o mundo. No entanto, perante o genocídio em Gaza, a maioria deles optaram por ignorar os atos cruentos de Israel e as retóricas genocidas dos líderes dele. A história não será gentil com eles, pois mal disseram uma palavra enquanto o seu país é cúmplice de um crime horrível, perpetrado abertamente diante de todos.
O artigo de Mearsheimer ganhou ampla repercussão, não só porque se trata de reflexão de um acadêmico dos Estados Unidos, como também porque esse corresponde à justiça internacional e consciência humana. Quem dera que os Estados Unidos se sensibilizem o quanto antes, e atuem de maneira como um grande país deve.