Os países não alinhados poderão encontrar um fluxo de desenvolvimento maior ao lado da China, por meio da Cooperação Sul-Sul, e criar uma independência comercial para as nações não desenvolvidas, afirmou Wilker Dias, docente universitário de relações internacionais em Moçambique.
“Com a entrada da China, como um dos principais atores económicos atualmente, os países têm maior autonomia económica, porque têm feito maiores relações de cooperação com a China e os países do Sul”, disse Wilker Dias, analista ouvido pelo Grupo de Mídia da China (CMG, na sigla em inglês).
Wilker Dias
O analista falava um dia antes da realização da 19ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do Movimento dos Países Não-Alinhados (MNA) e da 3ª Cimeira do Sul do Grupo dos 77 e China (G77+China), eventos a terem lugar em Kampala, República de Uganda, de 19 a 20 de janeiro e de 21 a 22 de janeiro, respetivamente.
Segundo Dias, os eventos revestem-se de singular importância porque têm o propósito de promover debates sobre interesses globais partilhados num cenário geopolítico complexo, mais competitivo e em rápida evolução. Eles contribuem para a defesa do multilateralismo, coexistência pacífica e cooperação no quadro de um regime mundial amplo de colaboração e interdependência entre os Estados membros.
Para o analista moçambicano, com a China ao lado, os países não alinhados poderão encontrar um “fluxo de desenvolvimento muito maior, uma vez que na maior parte estavam reféns do Ocidente”.
Dias entende que esta relação tem implicações no setor político de cada um dos países. “A China vai tentar dinamizar ainda mais os países não alinhados, através do reforço de cooperação económica e fazer com que haja maior influência securitária e política, para que haja cooperação entre si e um dinâmico sector industrial do continente africano”, explicou o analista.
Recordando a necessidade que os países africanos têm de industrializar o continente, Dias entende que a industrialização “só pode ocorrer através dos parceiros não alinhados, e a China pode ser um dos países importantes neste quesito.”
Multilateralismo é a “bandeira” da comunidade de futuro compartilhado
Com relação à comunidade de futuro compartilhado para a humanidade, ele entende que a iniciativa chinesa vem cimentar a ideia de que se os Estados tiverem espírito de cooperação mútua, em valores e em matéria-prima, poderão trazer ganhos significativos para o desenvolvimento humano, recursos humanos e recursos económicos.
“A iniciativa agrega valores do multilateralismo. Anteriormente, o mundo esteve virado ao unilateralismo, que trouxe algumas consequências que eram retrocessos. Não se alcançou o desenvolvimento esperado porque trazia consigo imposições. Diferente do multilateralismo que dá opções de ir a esquerda ou direita. São múltiplas escolhas. Isso acaba por ser um benefício para nós, como país que está em busca de alcançar um objetivo.”
Para ele, a China foi muito visionária ao propor esta vertente. “Cabe a nós ter a nossa planificação como um Estado em desenvolvimento para receber este tipo de iniciativa, fundo, parceria entre os países da cooperação Sul-Sul”, salienta o analista.
Quanto à atuação de Moçambique, Dias referiu que, “a participação do país fundamenta a ideia de que não Moçambique não escolhe lados e que o país está em busca de desenvolvimento.”
Concluindo, ele defendeu que esta é uma montra para mais investimentos no continente.
“Uma oportunidade para a integração de todos”, defende Paulo Tembe
Por seu turno, Paulo Tembe, do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, defende que a cúpula vai contribuir para a integração de todas as nações na nova ordem económica mundial.
“Aqueles países que não têm poder económico têm de fazer sentir o seu poder, tendo em conta que não se deve deixar ninguém para trás, como diz o lema, pois todos os países são necessários na arena internacional”, acrescentou.
Para Tembe, a participação de Moçambique nas duas cimeiras, que ocorrem no início do segundo ano do seu mandato de Membro Não-Permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, confere-lhe a oportunidade de interagir com uma diversidade de Estados membros, bem como influenciar os debates e resoluções das duas reuniões de alto nível, contribuindo assim para a defesa do interesse nacional na arena internacional e no reforço das relações de cooperação político-diplomática e económica Sul-Sul.
“Moçambique tem tudo para dar certo e o que deve fazer é mostrar que tem uma política de Estado e não, a curto prazo, que pode influenciar o mundo a lidar com questões de segurança, defesa e economia”, disse recordando que aquele país lusófono conta dois mandatos no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Segundo Tembe, Moçambique é um player, com grandes investimentos estrangeiros, e é detentor de vários recursos energéticos que escasseiam no mundo.
A 19ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do MNA, uma reunião estatutária que se realiza de três em três anos, vai proceder à passagem da presidência da organização a Uganda, depois da República do Azerbaijão ter exercido esse cargo desde outubro de 2019, data da 18ª cimeira ocorrida em Baku, capital do Azerbaijão.
Ademais, para além de avaliar o ponto de situação sobre os progressos alcançados, a conferência vai renovar o esforço conjunto na materialização dos objetivos traçados, bem como adotar e emitir a declaração de Kampala e a declaração sobre a Palestina.
Convocada pelo presidente de Uganda, Yoweri Kaguta Museveni, a Cimeira do Sul é o órgão decisório do Grupo 77+China, que se reúne em Kampala, depois da cimeira extraordinária realizada em Havana, Cuba, em setembro de 2023, país que acolheu a primeira conferência em abril de 2000, tendo Qatar sido anfitrião da segunda em junho de 2005.
Comprometido com a persecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o G77 promove os seus interesses económicos coletivos e reforça a sua capacidade de negociação conjunta em todas as questões económicas no sistema das Nações Unidas, particularmente a cooperação Sul-Sul.
Por: Noa Taimo, repórter moçambicano