A história de sucesso que vamos tratar aqui começou há dez anos, quando a China apresentou uma importante e histórica iniciativa de cooperação internacional, chamada Cinturão e Rota.
Sendo considerado o ponto de partida setembro de 2013, o presidente Xi Jinping anunciou na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, sua proposta de unir esforços para construir uma nova Rota da Seda que representasse um sonho de uma grande conectividade e cooperação da China com o resto do mundo.
Assim, nos últimos anos, a iniciativa Cinturão e Rota tornou-se um produto global de grande popularidade e uma plataforma de cooperação internacional, sendo um dos maiores projetos de desenvolvimento de infraestrutura do mundo, abrangendo centenas de projetos de escala global, com o desenvolvimento de portos, ferrovias, estradas, instalações de energia e infraestrutura digital. Esses projetos têm contribuído para o crescimento econômico e a conectividade em muitos países, aumentando a facilidade de comércio, investimento e redução de custos.
Aqui no Brasil a iniciativa é conhecida por Nova Rota da Seda. Sendo importante destacar que não é apenas uma rota comercial, mas também um caminho para o desenvolvimento de uma sociedade melhor e comum para todos nós.
Nesse contexto, a China e o Brasil, como impulsionadores importantes do mecanismo de cooperação do Brics, estão trabalhando em estreita colaboração não apenas nos campos econômicos e de infraestrutura, mas também estão constantemente oferecendo insights e soluções para o desenvolvimento global e sustentável, de maneira a contribuir cada vez mais com a iniciativa.
Afinal nossa história com a China é de longa data. Desde o estabelecimento das relações diplomáticas nos anos 1970, quando o Brasil começou a importar petróleo da China e, hoje em dia, em que a China se tornou o principal destino das exportações de petróleo do Brasil, a energia tem sido um setor crucial na cooperação econômica bilateral e que é um dos pilares fundamentais da iniciativa do Cinturão e Rota.
Nessa toada, o Brasil possui um enorme potencial para implementar projetos de energias limpas e renováveis, como o biodiesel, a eólica e a solar. Por outro lado, a China possui a capacidade técnica e de produção necessária para ajudar o Brasil a avançar na implementação desses projetos, tornando-se uma colaboração mutuamente benéfica.
Isso porque, atualmente, aproximadamente 45% da matriz energética do Brasil é composta por fontes de energia renovável, com mais de 80% da geração de eletricidade proveniente de fontes limpas. A matriz energética cada vez mais limpa se fez necessária devido a desafios como secas frequentes e mudanças climáticas extremas. O que fez com que a oferta de energia hidrelétrica se tornasse mais instável, exigindo que o Brasil reformulasse ou otimizasse seu sistema de abastecimento de energia. Assim, aumentar a proporção de energia eólica e solar dentro da matriz energética pode ser uma parte importante desse processo, e as empresas chinesas podem desempenhar um papel vital no fornecimento do impulso externo necessário para o desenvolvimento conjunto nessa área.
Desde 2009, após a crise financeira internacional, o Brasil adotou uma política de investimento relativamente aberta, o que proporcionou oportunidades para a entrada da China no mercado brasileiro. Empresas chinesas que entraram no mercado brasileiro incluem a State Grid Corporation of China, a China Three Gorges Corporation, a State Power Investment Corporation, e a Shanghai Electric, entre outras. As áreas de cooperação entre ambas as partes abrangem hidrelétricas, energia solar, eólica, biodiesel e muito mais.
Além disso, em 2016, a China Three Gorges Corporation ganhou o direito de concessão de 30 anos para operar dois importantes projetos de hidrelétricas no Brasil, Jupiá e Ilha Solteira, com uma capacidade total de quase 5 milhões de quilowatts. Essa aquisição foi a maior feita pelo grupo Three Gorges no exterior. Em 2019, a State Grid Corporation of China investiu e construiu de forma independente a segunda fase do projeto da maior usina hidrelétrica do Brasil, a de Belo Monte.
O projeto da segunda fase de Belo Monte é a maior obra de transmissão de energia do Brasil e também marca um legado importante na primeira exportação em escala da tecnologia de transmissão de alta tensão da China. As linhas de transmissão do projeto de Belo Monte II se estendem por 2.550 quilômetros, atravessando cinco estados do Brasil e mais de 81 cidades. O que resolveu de forma eficaz os desafios de exportação e absorção de energia limpa da bacia amazônica no norte do Brasil, atendendo à demanda de transmissão de energia do norte para o sul do nosso país. Isso porque as energias renováveis puderam se aproveitar de tamanha infraestrutura, impulsionando o desenvolvimento econômico e social do Brasil, bem como a transição para uma energia mais limpa e de baixo carbono, contribuindo com a solução chinesa para o fornecimento seguro e estável de energia no Brasil. É um projeto típico da iniciativa Cinturão e Rota da China e uma importante prática de sucesso da cooperação internacional de capacitação produtiva na América do Sul.
Além disso, no campo da energia limpa, empresas como a BYD estão atualmente promovendo veículos elétricos no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos, em 2023, a BYD liderou as vendas de veículos elétricos puros e híbridos plug-in no mercado brasileiro. A BYD conquistou o primeiro lugar nas vendas de veículos elétricos no Brasil pelo segundo mês consecutivo. Nesse caminho, a cooperação entre China e Brasil em novas cadeias industriais, representadas por veículos elétricos, pode abrir novas oportunidades e contribuir para o desenvolvimento sustentável do Brasil.
Todos sabemos que um ambiente ecologicamente saudável é o produto social mais justo e fundamental para um bem-estar universal. A China cada vez mais vem demonstrando sua preocupação com a proteção e preservação do meio ambiente, comprometendo-se com uma abordagem de desenvolvimento ecológico prioritário e verde. Isso também proporciona oportunidades para o desenvolvimento das relações entre países vizinhos, o fortalecimento dos laços entre nações e a promoção da paz e estabilidade em um mundo cada vez mais interconectado.
O Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional será realizado este mês em Pequim. Esperamos que este evento seja a plataforma adequada para aprofundar o entendimento entre os países envolvidos na iniciativa e continuar com o progresso alcançado até agora. Após uma década de esforços, o Cinturão e Rota já encontrou métodos eficazes e modelos de cooperação que não apenas auxiliarão a todo o planeta, mas principalmente ao Brasil que busca um cinturão cada vez mais verde e ecológico.
Por Raphael Taucei Panizzi, gerente de engenharia e consultor do Brasil