A conferência foi uma iniciativa da Câmara de Cooperação e Desenvolvimento de Portugal-China (CCDPC), da União de Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China e do Observatório da China, apoiados pelo Instituto Nacional de Estratégia Global (NIGS-CAS), da China, tendo como coanfitriões o Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-China, o Centro Cultural e Científico de Macau, lugar da primeira jornada em Lisboa (02.10) e a Fundação Manuel António da Mota, no Porto (03.10). Nela participaram, em presença e online, representantes das principais corporações empresarias, das universidades, municípios, fundações culturais e a generalidade de entidades que cooperam com a República Popular da China, incluindo representações dos países de língua portuguesa. Em representação dos respetivos governos, intervieram o Embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, e o Embaixador de Portugal na China, Paulo Jorge Nascimento. O. presidente da Liga dos Chineses e Presidente da União das Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China, Y Ping Chow, presidiu os trabalhos.
Em nome do Centro de Cooperação e Promoção do Desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas da China, o diretor He Wei apresentou um projeto integrado, para o desenvolvimento sustentável das pequenas e médias empresas, de Portugal e da China.
Nele destacamos:
“Para esta visita a Portugal, trouxemos connosco um pacote de intenções e planos de cooperação, da parte de grupos de empresas chinesas empenhadas sinceramente nesta missão. Aqueles incluem: novas soluções abrangentes de armazenamento de energia comercial e doméstica em termos de segurança energética. As empresas chinesas relevantes esperam muito cooperar com as empresas portuguesas para construir em conjunto uma rede de lojas de 4S de armazenamento de energia em Portugal ou na Europa. O nosso sistema de “microgrid” foi aplicado no Centro Nacional de Dados de Angola e em 106 ilhas (hotéis) nas Maldivas.
As empresas chinesas de veículos de energia renovável também esperam construir em Portugal uma base de fabricação para novos veículos completamente movidos a eletricidade ou baterias de carregamento e outros equipamentos.
Esperamos também contar com a posição central de Portugal nas relações com os países de língua portuguesa para promover os produtos acima referidos nesses países.
A cooperação global para o desenvolvimento em algumas regiões de Portugal e alguns projetos agrícolas são também aspetos importantes da cooperação.
Além disso, também estamos atentos a projetos de cooperação no campo do comércio de serviços, como o financiamento transnacional da cadeia de suprimentos que prestam serviços para os projetos acima mencionados.
Acreditamos que, com a ligação entre Portugal e Macau, podemos criar uma cadeia de comércio, informação, liquidação e outras trocas entre as zonas de comércio livre de Portugal, Macau e a parte continental da China. Não só permitir que Portugal, os países de língua portuguesa e até a Europa participem no desenvolvimento económico da China, mas também contribuir para que as empresas chinesas se desenvolvam melhor na Europa e nos países de língua portuguesa, através da parceria com Portugal.” – afirmou He Wei.
António Lei, diretor dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau, em Hengqin, apresentou então o Projeto Grande Baía.
O major-general Carlos Branco, antigo diretor da Divisão de Cooperação e Segurança Regional do Estado-Maior Internacional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e investigador, lembrou as recentes palavras do presidente chinês, Xi Jinping, no fórum de Davos, assumindo que “continuava comprometido com a segurança comum abrangente e sustentável”, segundo a agência de notícias de Portugal – Lusa.
O painel integrava a IV Conferência Internacional de Cooperação Portugal-China, que se realizou em Lisboa e no Porto (2 e 3 de outubro), assinalando os 10 anos do lançamento da iniciativa da Nova Rota da Seda (Cinturão e Rota) e a parceria estratégica Europa-China 20, colocando como objetivo contribuir para o “abrandamento da tensão entre a Europa e a China”.
Para o general Carlos Branco, o presidente Xi Jinping definiu uma estratégia diplomática onde quis deixar muito claro que “o país está comprometido em colaborar na resolução de disputas regionais e em solucionar desafios globais”, o que ajuda a compreender o seu posicionamento perante o conflito na Ucrânia.
“A China apresentou um plano de paz para a Ucrânia em 12 pontos, que ilustra muito bem o seu respeito pela estratégia de segurança global, tirando proveito do seu protagonismo”, argumentou também Carlos Branco.
O general lembrou que a China já teve um papel importante na mediação entre a Arábia Saudita e o Irão e procura agora um deslocamento das suas atenções para o sul, sobretudo na América Latina e na África — um interesse perfeitamente ajustado à sua estratégia da Nova Rota da Seda, lembrada nesta conferência no Porto.
O juiz Júlio Pereira aproveitou para recordar sua proposta, feita junto do governo chinês, para aproveitar a secular proximidade entre Portugal e a China para a criação de um centro de Sinologia em Macau.
“Quando pouca gente na Europa ainda se recordava da China, nós nada fizemos”, lembrou este especialista, dizendo que esta pode ser uma “oportunidade única” para Portugal não desperdiçar a sua influência na Ásia.
O vice-diretor do Instituto de Economia Mundial e Política da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhang Bin, explicou que a alteração estrutural no ritmo de crescimento económico chinês não se deve aos fatores que são apontados nas `mídias` internacionais, em particular o aparecimento de uma `bolha` imobiliária de elevado nível de risco ou o aumento exponencial da dívida pública da China.
“As razões devem ser procuradas noutro lugar. Desde logo no arrefecimento da procura interna e externa, que afetou os níveis de produção e de exportação dos principais setores da economia chinesa. Mas, também devem ser procuradas na falta de capital humano intensivo”, explicou o professor do Instituto de Economia Mundial e Política. “Este é o momento para a China apostar em investir nas suas infraestruturas e no capital humano intensivo”, salientou o investigador, afirmando que este momento deve ser olhado não como uma crise, mas como uma oportunidade, lembrando que nos últimos anos a China passou a fazer uma aposta na qualidade dos seus produtos e em acumular conhecimento para prosseguir essa trajetória de qualificação.
“Este não é o momento para procurar mais expansão. Este é o momento para investir e para acumular `know how`”, disse Zhang, referindo-se às possibilidades de alargamento de zonas de influência comercial propiciados pela Nova Rota da Seda, que devem ser aproveitadas para aprender com outros sistemas, mais do que para serem vistos como novos mercados.
O vice-diretor do Instituto de Economia Mundial e Política assinalou ainda que, quando se compara o arrefecimento da economia chinesa com o comportamento das economias de países desenvolvidos em dificuldades, é possível perceber a falta de procura externa.
Zhang Bin afirmou que o nível de desemprego juvenil anunciado pelo Ocidente, não corresponde à realidade global do emprego na China, que é de apenas 5%. Tal significa que, após um período inicial de transição, os jovens acedem ao mercado de trabalho:
“Mais uma razão para se aproveitar este momento para qualificar a mão de obra na China”, disse o investigador.
Entre as mensagens de saudação, destacamos as do Ministro das Finanças de Portugal e do Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços.
Por António dos Santos Queirós, professor e investigador.
Universidade de Lisboa, co -organizador da conferência, com Rui Lourido, Y Ping Chow e Domingues dos Santos.