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A 15ª Cúpula dos BRICS é um salto para a cooperação, o desenvolvimento compartilhado e a paz

Por José Reinaldo Carvalho, jornalista, editor internacional do Brasil 247 e secretário-geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz)

Realiza-se na cidade de Joanesburgo, África do Sul, de 22 a 24 de agosto, a 15ª Cúpula dos BRICS, o grupo de países emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. É o maior encontro da organização em sua história, desde que foi criado em junho de 2009, e a maior reunião de países do Sul Global nos últimos anos, como atesta a participação de mais de 60 líderes globais e figuras políticas de destaque. Sob o tema “BRICS e África – Parceria para o Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo”, estão em discussão questões da maior relevância, relacionadas aos anseios da maioria da humanidade.
Os BRICS são um grupo voltado para a promoção da cooperação econômica, política e cultural entre países cuja influência regional e global cresce cada vez mais. São economias emergentes com potencial significativo de crescimento e impacto positivo nas relações internacionais. Suas cúpulas anuais se tornaram um fórum importante para discutir questões econômicas, políticas e globais.
O grupo promove a ideia de uma ordem mundial multipolar, desempenhando um papel significativo em questões globais, como mudanças climáticas, segurança cibernética, combate ao terrorismo e reforma das instituições financeiras internacionais. Seus membros representam algumas das economias de crescimento mais rápido do mundo, destacadamente a China, cujo crescimento contínuo puxa para cima o crescimento da economia mundial.
Além disso, facilitam a cooperação comercial e contribuem para a formatação de uma nova arquitetura financeira internacional, contando hoje para isso com um instrumento fundamental para financiar o desenvolvimento – o Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco dos BRICS – o que pode reforçar a estabilidade financeira em um mundo volátil.
Os BRICS são cada vez mais um fator favorável ao desenvolvimento compartilhado, e defendem como valor supremo o desenvolvimento com defesa da soberania nacional, o que corresponde a uma tendência vigorosa e inexorável dos tempos atuais.
É notável, nesse sentido, o apelo que fez o presidente chinês, Xi Jinping, no discurso lido pelo ministro do Comércio da China, Wang Wentao, no Fórum de Negócios BRICS 2023. O líder máximo da China instou a ações para concretizar a visão de comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade e defendeu a cooperação global.
“Neste momento, as mudanças no mundo, em nossa época e na história estão se desenrolando de maneiras como nunca antes, levando a sociedade humana a uma encruzilhada crítica”, alertou Xi Jinping no discurso intitulado “Fortalecer a Solidariedade e a Cooperação para Superar Riscos e Desafios e Construir em Conjunto um Mundo Melhor”.
“Devemos buscar a cooperação e a integração, ou apenas sucumbir à divisão e à confrontação? Devemos trabalhar juntos para manter a paz e a estabilidade, ou simplesmente caminhar cegamente em direção ao abismo de uma nova Guerra Fria? Devemos abraçar a prosperidade, a abertura e a inclusão, ou permitir que atos hegemônicos e de bullying nos levem à depressão? Devemos aprofundar a confiança mútua por meio de intercâmbios e aprendizado mútuo, ou permitir que a arrogância e o preconceito ceguem nossa consciência?”, questionou o presidente chinês.
Xi interpretou com precisão os anseios dos povos, assinalando que o que estes desejam “definitivamente não é uma nova Guerra Fria ou um pequeno bloco exclusivo; o que desejam é um mundo aberto, inclusivo, limpo e belo, que desfrute de uma paz duradoura, segurança universal e prosperidade comum.” E frisou que essa é a lógica do avanço histórico e a tendência de nossa época. Com visão holística, o presidente chinês defendeu a promoção do “desenvolvimento e a prosperidade para todos”.
O líder chinês reiterou a Iniciativa de Desenvolvimento Global, para enfrentar desafios comuns e melhorar a vida das pessoas em todo o mundo, e a Iniciativa de Segurança Global, para “alcançar a segurança universal”, uma nova visão de “segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável”. E renovou o compromisso da China de permanecer comprometida com “intercâmbios entre civilizações e aprendizado mútuo”.
Valorizando os BRICS como uma força positiva e estável para o bem, que continuará a crescer, Xi defendeu a ampliação do grupo: “Iremos forjar uma parceria estratégica BRICS mais forte, expandir o modelo ‘BRICS Plus’, avançar ativamente na expansão de membros, aprofundar a solidariedade e a cooperação com outros mercados emergentes e países em desenvolvimento, promover a multipolaridade global e uma maior democracia nas relações internacionais e ajudar a tornar a ordem internacional mais justa e equitativa”, disse Xi, assinalando que “mais de 20 países estão batendo à porta dos BRICS e a China espera ver mais aderindo ao mecanismo de cooperação BRICS”.
A ampliação dos BRICS vai ganhando força e é um dos temas mais relevantes da 15ª Cúpula. A inclusão de novos membros aumentará sua diversidade econômica e geopolítica, permitindo que o grupo represente uma gama mais ampla de perspectivas e interesses. Novos membros poderão contribuir com seus próprios recursos, mercados e expertise, fortalecendo ainda mais a posição dos BRICS como um bloco econômico poderoso.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, quem foi um de seus fundadores, destacou em seu discurso as oportunidades crescentes para o desenvolvimento dos países emergentes. Segundo ele, “o dinamismo da economia está no Sul Global e o BRICS é sua força motriz”. Um dos focos da preocupação do presidente brasileiro é o financiamento do desenvolvimento dos países emergentes. Por isso, enfatizou o uso das moedas locais e o papel do Banco. “Tenho defendido a ideia de adoção de uma unidade de conta de referência para o comércio, que não substituirá nossas moedas nacionais” (…) As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento continuam muito altas. A falta de reformas substantivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes. A decisão de estabelecer o Novo Banco de Desenvolvimento representou um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes. Nosso banco conjunto deve ser um líder global no financiamento de projetos que abordem os desafios mais urgentes de nosso tempo, e também defendeu uma forte parceria”.
O presidente brasileiro também criticou a desigualdade existente no mundo, e em particular o que chamou de “neocolonialismo verde”, referindo-se ao uso da questão ambiental para manter os países em desenvolvimento sob domínio das potências econômicas ocidentais.
A julgar pelos pronunciamentos dos líderes dos BRICS em Joanesburgo, a 15ª Cúpula entrará para a história não apenas como a maior, mas também como aquela que proporcionou um salto qualitativo na ação do grupo em prol de uma nova ordem econômica internacional e uma nova governança global, fundada na cooperação, no desenvolvimento compartilhado e na paz.

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