Rio de Janeiro – O Favelas 20, grupo que reúne líderes de favelas no âmbito do G20, entregou aos representantes do bloco um documento com uma lista de ações prioritárias para combater questões como a desigualdade e melhorar a qualidade de vida dos moradores das comunidades.
Em evento no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, o F20 comemorou o Dia Nacional da Favela, realizado nesta segunda-feira, entregando uma série de propostas ao G20, incluindo a criação de um fundo para financiar o desenvolvimento das favelas.
“Não estamos aqui apenas para sermos ouvidos. Queremos participar da construção”, afirmou René Silva, fundador da Voz das Comunidades, organização não governamental (ONG) nascida no Complexo do Alemão que se destaca com suas atividades de jornalismo comunitário.
“A favela faz parte da solução, a favela tem a solução”, afirmou. “Quando listamos todos os temas que os líderes mundiais debatem no G20, todos os temas tocam a nossa vida, o dia a dia das pessoas que vivem aqui, nas favelas”, acrescentou.
Um dos fundadores do F20, Erley Bispo enfatizou a participação e integração dos moradores das favelas no processo de desenvolvimento da proposta.
“Sempre que propomos ações, eventos e outras propostas, elas acontecem dentro da favela, porque, na verdade, é de lá que têm que vir as recomendações”, explicou.
O F20 é uma iniciativa liderada pela Voz das Comunidades, em colaboração com outras organizações, dentro e fora do Brasil. Desde maio deste ano, foram realizadas uma série de reuniões para debater e sugerir propostas. É a primeira vez que os debates no âmbito do G20 incluem a voz ativa dos representantes comunitários.
Ao destacar que cerca de 20% da população brasileira vive em favelas e periferias, René Silva criticou a falta de atenção e representação política que as comunidades têm: “O nosso espaço dentro deste lugar de poder é muito pequeno”, lamentou.
Segundo ele, os moradores não participam da construção das políticas públicas. Ele deu como exemplo a instalação de um teleférico no Complexo do Alemão em 2011.
“Nunca nos perguntaram se os moradores do Complexo do Alemão prefeririam ter acesso ao teleférico, que está parado desde 2016, logo após as Olimpíadas, ou se prefeririam maior acesso ao saneamento básico, água potável, mais atividades culturais, acesso à tecnologia”, disse ele.
“A favela pode e deve contribuir para essa transformação. Temos um papel fundamental, muito importante, quando falamos de como construir essa solução. Por isso este documento, o surgimento do F20”, afirmou René Silva.
Erley Bispo enfatizou ainda que o F20 se baseia em debates locais e soluções globais. “O que normalmente acontece nas comunidades em que se vive também acaba sendo reflexo do que acontece em outras comunidades. Então é uma forma de poder compartilhar conhecimento, compartilhar a solução”, explicou.
Entre os problemas comuns das favelas ao redor do mundo, Bispo menciona a falta de acesso a serviços de saneamento básico e água potável. Cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem em favelas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).