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Observatório Econômico: Conceitos errôneos da UE sobre veículos elétricos chineses

(240518) -- LISBON, May 18, 2024 (Xinhua) -- This photo taken on May 17, 2024 shows the exhibition area of BYD during the Ecar Show 2024 in Lisbon, Portugal. The event takes place from May 17 to 19. (Xinhua/Wen Xinnian)

Genebra – A decisão da UE de impor tarifas provisórias sobre os veículos elétricos importados da China a partir de 4 de julho provocou forte insatisfação das montadoras chinesas e europeias, levando os dois lados a iniciar consultas sobre a investigação antissubsídios da UE sobre os veículos elétricos chineses no final de junho.

Como as negociações estão em andamento, é fundamental que a UE analise os fatos sobre as questões a seguir para evitar politizar questões econômicas e comerciais.

A EUROPA SOFREU PERDAS COM A COOPERAÇÃO AUTOMOTIVA COM A CHINA?

Nunca.

A colaboração entre os setores automotivos chinês e europeu começou há 40 anos, quando a Volkswagen estabeleceu uma joint venture na China, seguida por outros fabricantes, como PSA Peugeot Citroen, BMW e Daimler.

Nas últimas quatro décadas, os fabricantes de automóveis europeus produziram e venderam um número significativo de veículos na China. A Volkswagen havia entregado aproximadamente 40 milhões de veículos no mercado chinês até o final de 2022. A BMW Brilliance Automotive, uma joint venture entre a China e a Alemanha, produziu seu veículo número 6 milhões na linha de montagem em maio. Tanto para a Volkswagen quanto para a BMW, as vendas na China representam mais de 30% de seu total global.

Ao trazerem tecnologias avançadas, experiência em gerenciamento e técnicas de produção para a China, as montadoras europeias também obtiveram lucros substanciais no competitivo mercado chinês.

Mesmo no campo dos veículos de nova energia, a China e a Europa não estão envolvidas em um jogo de soma zero. Empresas como a Volkswagen e a BMW estabeleceram centros de pesquisa na China ou colaboraram diretamente com empresas chinesas para impulsionar a inovação tecnológica. Isso ajudou os fabricantes de automóveis europeus a entender melhor e a se adaptar ao mercado chinês, posicionando-os de forma vantajosa em veículos elétricos e inteligentes.

Nos últimos anos, os veículos elétricos chineses progrediram significativamente, o que surpreendeu muitos na Europa. No entanto, sua participação no mercado europeu continua baixa. Ainda assim, alguns políticos estão tentando explorar a situação para fins políticos.

De fato, nos últimos 40 anos, as montadoras europeias sem dúvida se beneficiaram da cooperação com a China, conforme evidenciado por sua oposição à investigação antissubsídios da UE sobre EVs fabricados na China. Grandes empresas automobilísticas, como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz, expressaram suas objeções a essas medidas protecionistas, considerando-as não razoáveis nem justificadas.

A Associação Alemã da Indústria Automotiva disse na quarta-feira em um comunicado que as tarifas planejadas contra os veículos elétricos fabricados na China seriam contraproducentes para as metas climáticas da Europa e prejudiciais para sua indústria e seus consumidores. Os fabricantes de automóveis ocidentais na China também seriam afetados, em alguns casos até mais do que as empresas chinesas, observou.

“A competitividade é fomentada pela concorrência”, disse a associação.

O PROBLEMA É O “EXCESSO DE CAPACIDADE” CHINÊS OU A FALTA DE CAPACIDADE DA UE?

Provavelmente o último.

Conforme observado pelo jornal suíço Neue Zurcher Zeitung, se um país produzisse apenas para seu mercado interno, não haveria comércio internacional. O setor automotivo opera inerentemente com produção e vendas globais. Em 2023, cerca de 80% dos carros produzidos na Alemanha e 50% dos carros fabricados no Japão foram exportados, enquanto apenas 12,7% dos veículos elétricos da China foram vendidos para o mercado internacional. As acusações de “excesso de capacidade” da China são, portanto, infundadas.

De acordo com a pesquisa da Agência Internacional de Energia, para atingir a neutralidade de carbono, as vendas globais de EVs precisam chegar a cerca de 45 milhões até 2030, mais do que o triplo do número de 2023 e excedendo em muito a capacidade de produção global atual.

Tomemos a UE como exemplo. Seu setor de transporte é responsável por quase um quarto do total de emissões de gases de efeito estufa. Para cumprir a meta de emissão líquida zero até 2050, a UE precisa de pelo menos 30 milhões de veículos com emissão zero nas ruas até 2030. Do ponto de vista da oferta e da demanda, o setor de veículos elétricos não está com excesso de capacidade, mas sim enfrentando uma escassez de capacidade.

Essencialmente, as alegações da UE sobre o “excesso de capacidade” da China em veículos elétricos e as preocupações com a “segurança da cadeia de suprimentos” são apenas desculpas para impedir que a China participe do comércio internacional normal e prejudicar o desenvolvimento dos veículos elétricos chineses.

O chamado “dumping” de veículos elétricos chineses na Europa também é exagerado. A maioria dos veículos elétricos exportados da China para a Europa são marcas ocidentais fabricadas na China.

De acordo com dados da Federação Europeia de Transporte e Meio Ambiente, em 2023, 19,5% dos veículos elétricos vendidos na Europa foram produzidos na China, e apenas 7,9% deles eram de marcas chinesas. A fábrica de Shanghai da montadora norte-americana Tesla exportou cerca de 340.000 veículos em 2023, quase metade dos quais foram vendidos para a Europa. Portanto, as marcas chinesas de veículos elétricos detêm uma participação de mercado relativamente pequena na Europa, longe de serem os principais participantes.

Pessoas visitam o estande da montadora chinesa BYD durante a feira Busworld Europe em Bruxelas, Bélgica, em 7 de outubro de 2023. (Xinhua/Pan Geping)

O BOOM DOS EVS CHINESES É RESULTADO DE SUBSÍDIOS?

Não.

O sucesso da China no setor de veículos elétricos decorre da inovação tecnológica, de uma cadeia de suprimentos robusta e de um mercado competitivo, e não de subsídios.

Um relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, sediado nos EUA, observou a importância de reconhecer os enormes avanços feitos pelos fabricantes chineses de veículos elétricos e produtores de baterias. Nos últimos anos, houve melhorias substanciais na densidade de energia, no alcance e na confiabilidade das baterias de veículos elétricos chineses, bem como melhores designs, sistemas de infoentretenimento e recursos de autonomia.

A alegação da UE de que os EVs acessíveis da China são altamente subsidiados e, portanto, perturbam o mercado, não tem fundamento. Na realidade, são as medidas protecionistas da UE que estão causando a desorganização do mercado.

As políticas de subsídio tiveram origem na Europa e nos Estados Unidos e são amplamente praticadas em todo o mundo. A China não implementa nenhum subsídio que seja proibido pelas regras da OMC.

Em contrapartida, a Europa e os Estados Unidos intensificaram significativamente seus subsídios para EVs nos últimos anos, com uma série de práticas exclusivas e discriminatórias. Isso criou barreiras para os EVs chineses e está em clara violação das normas da OMC.

A INVESTIGAÇÃO DA UE É RAZOÁVEL?

Não.

Os especialistas do setor acreditam que a investigação da UE busca impedir que as empresas chinesas de veículos elétricos invistam e se expandam na Europa e diminuir a competitividade dos setores emergentes chineses, de modo a proteger os setores tradicionais locais. Com a proximidade das eleições recém-concluídas na UE, essa medida protecionista tem motivação política e geopolítica.

A UE sempre se apresentou como uma defensora ferrenha do livre comércio e alega que sua investigação tem como objetivo determinar se a China está subsidiando excessivamente seu setor de veículos elétricos e estabelecerá tarifas com base nos resultados. Entretanto, na verdade, a investigação foi iniciada sem solicitações dos Estados-membros ou do setor automotivo.

Além disso, o processo de investigação foi caracterizado por padrões de amostragem não conformes e falta de transparência, violando seriamente as regras da OMC.

Por exemplo, a UE excluiu os produtores com alto volume de vendas dos Estados-membros durante o processo de amostragem, demonstrando uma clara abordagem discriminatória direcionada às empresas chinesas de veículos elétricos.

Vozes visionárias dos círculos políticos, empresariais e acadêmicos da Europa pediram que, em vez de impedir a entrada de veículos elétricos chineses, a UE deveria colaborar com a China para aproveitar as vantagens tecnológicas e da cadeia de suprimentos para melhorar o cenário industrial da Europa, cumprir os compromissos de redução de emissões, atender aos consumidores e obter benefícios mútuos. A imposição de barreiras não passa de uma medida míope.

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