Brasília – Com a participação de destacadas personalidades, foi aberto nesta quinta-feira, no Centro Internacional de Convenções de Brasília, o 2º Congresso Internacional de Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que se realiza de 21 al 23 de março, tendo como tema principal “Integrando Prevenção, Promoção e Sustentabilidade nos Sistemas de Saúde”.
No evento, durante o qual também acontecem o 5º Congresso Pan-americano de MTC e a primeira edição do Congresso de MTC da América Latina, é organizado pela Federação Mundial de Medicina Tradicional Chinesa (WFCMS), que conta com 286 membros de 74 países e regiões e consolida sua posição como uma destacada organização acadêmica internacional.
Com a colaboração da Base de Cooperação Internacional China-Brasil de Medicina Chinesa e a Cienlabor Industria, e apoio do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (Cabsin), o Congresso busca promover o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa nas Américas.
Os participantes incluem funcionários governamentais, acadêmicos, empresários e profissionais de diversos campos relacionados.
A programação do evento abrange uma ampla gama de temas, desde a pesquisa básica e clínica até a preservação cultural e o papel da medicina tradicional chinesa na luta contra a pandemia da COVID-19.
Fang Fang, diretora da Base de Medicina Tradicional Chinesa de São Paulo e presidente do comitê organizador da conferência, destacou a contribuição que a medicina tradicional chinesa pode oferecer no Brasil.
“Celebrar uma conferência de MTC deste tipo em Brasília é de grande importância tanto para promover a MTC no Brasil como para oferecer outra opção complementar para a saúde pública. Ainda não existe nenhuma lei que permita o uso e a prática da MTC no Brasil, mas acredito que a MTC poderia trazer muitos benefícios para o povo brasileiro”, afirmou.
Por sua vez, o Doutor Marcos Vinicius Soares Pedrosa, diretor do Departamento de Gestão de Atenção Integral do Ministério da Saúde do Brasil, ressaltou que a medicina tradicional chinesa tem uma grande aceitação em seu país, inclusive nas periferias urbanas, “mais do que se pensa”.
“A importância da medicina tradicional chinesa para nosso Sistema Único de Saúde (SUS) é enorme. Já é oferecida em mais de 85% de nossos municípios, as pessoas estão satisfeitas com o serviço e está contribuindo muito para abordar os principais problemas de saúde aqui em nosso país”, disse.
“Conta com um grande apoio da população, que, há décadas, vem demandando a incorporação deste tipo de atenção em nosso sistema de saúde e já temos conseguido uma importante extensão destas práticas tanto nos hospitais como na atenção primária”, acrescentou.
Segundo Soares Pedrosa, a média de opinião das pessoas é muito positiva com relação a práticas como a acupuntura e práticas corporais como o Lian-Kun e o Tai-Chi que já estão muito espalhadas.
Apesar de explicar que, embora o uso da medicina tradicional chinesa no Brasil seja habitual, o diretor do Departamento de Gestão de Atenção Integral do Ministério da Saúde esclareceu que ainda não há uma lei reguladora dessa prática. Um projeto de lei está sendo discutido no Congresso há mais de duas décadas, com expectativa de que seja aprovado brevemente.
“Creio que será um grande salto adiante nesta parceria, nesta cooperação mútua entre nossos países, e que se estenderá também, com nosso apoio, ao resto dos países latino-americanos através da Organização Pan-americana de Saúde”, afirmou.
Já o deputado da Assembleia Legislativa do Distrito Federal, Jorge Vianna, enfermeiro profissional, ressaltou o enfoque holístico da medicina tradicional chinesa, complementar à medicina ocidental.
“A medicina tradicional chinesa remonta há milhares de anos e sempre esteve profundamente enraizada na compreensão holística do corpo humano e na interconexão entre mente, corpo e espírito. Partindo deste princípio, ao longo dos séculos, os praticantes da medicina chinesa desenvolveram um vasto conjunto de técnicas terapêuticas, incluindo acupuntura, fitoterapia, massagem terapêutica e exercícios terapêuticos”, comentou.
Vianna destacou que enquanto a medicina ocidental tende a se concentrar no tratamento de sintomas específicos com intervenções farmacológicas ou cirúrgicas, a MTC oferece uma perspectiva mais ampla e integrativa.
“Além disso, a medicina tradicional chinesa, muitas vezes se destaca na prevenção de doenças, enfatizando a importância de um estilo de vida saudável, dieta equilibrada e práticas de autocuidado como exercícios terapêuticos e meditação”, afirmou.
O deputado exaltou a iniciativa de realizar este congresso em Brasília, e ressaltou que, entre os inumeráveis campos de cooperação bilateral entre a China e o Brasil, o da saúde, certamente, é um dos que mais pode se beneficiar.
“Não só pela ciência de ponta e pela alta tecnologia que a China tem produzido, como também pelo aproveitamento dos saberes tradicionais de uma civilização milenar”, concluiu.
Por sua vez, o Doutor Ramón Calduch, presidente da Fundação Europeia para a Medicina Tradicional Complementar e Integrativa, disse que a escolha das terapias mais adequadas para o cuidado com a saúde é um direito humano e recordou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem elaborado uma série de relatórios para garantir a aplicação de terapias tradicionais.
Entre esses documentos Calduch mencionou a Estratégia 2014-2023, prorrogada por um ano, que fez recomendações a todos os países sobre a aplicação de medicina tradicional e informou que uma nova estratégia, a para 2025-2034, deve ser discutida na 77ª Assembleia da OMS, a realizar-se em maio próximo.
“Para não violar os direitos fundamentais das pessoas, seria necessário que os diferentes países se conscientizassem da importância de regulamentar estas terapias tanto na sua prática, quanto em seu aprendizado, bem como na pesquisa, conforme recomendado pela OMS”, afirmou Calduch.
Essas medidas permitirão garantir a proteção de seus cidadãos em termos de saúde, com boas práticas e conselhos de saúde verdadeiramente informativos, a partir dos quais, as pessoas possam decidir como querem cuidar da sua saúde.
“Em conclusão, a liberdade de escolha terapêutica e a regulamentação da medicina complementar e integrativa pelos Estados são parte dos direitos dos indivíduos no campo do direito internacional dos direitos humanos e, como tal, devem ser garantidos”, enfatizou.