Ícone do site Xinhua – Diario de Pernambuco

Especial: Panorama de uma aldeia chinesa

Por Luca Valente, repórter da Xinhua

   Beijing – De pé no miradouro, degusto uma doce maçã colhida com as próprias mãos, enquanto meus olhos admiram as plantações que se estendem até onde a vista alcança. Do norte ao sul, leste ao oeste, são dezenas de áreas com milhares de macieiras cobertas por uma delicada rede branca, rede esta que serve de proteção para as frutas.

   O local é a pacata aldeia Nangou, no distrito de Ansai, na Província de Shaanxi, noroeste da China. Sua história de transformação impressiona: uma vez uma aldeia montanhosa praticamente improdutiva, em cerca de uma década apenas, agricultura rústica deu lugar a modernas técnicas agrárias e aquícolas de cultivo e colheita, criação e extração, casas e ruas de terra deram lugar a residências de alvenaria e ruas asfaltadas, desenvolveu-se um negócio turístico promissor. Hoje, não somente a flora da aldeia, mas também a economia floresce, proporcionando vida digna aos moradores, e, diga-se de passagem, bem-estar a nível nacional, no que tange à exportação de alta-qualidade de seus preciosos produtos.

Em tempo: tal transformação não ocorreu por acaso. A aldeia foi alvo de um programa do governo de erradicação da pobreza o qual catapultou a vida de cerca de 1.000 aldeões locais. De uma condição passiva e impotente para uma conspícua condição geral que transborda criatividade e produtividade, obteve-se um aumento da renda per capita disponível dos moradores locais de cerca de 4.600 yuans em 2014 (US$ 645) pra quase 20.000 yuans (US$ 2.800) em 2022.

   Com empregos estáveis para os aldeões, educação de bom nível para as crianças e seguro médico aos idosos, a aldeia Nangou desponta como uma nova estrela em um distrito já famoso por sua riqueza cultural.

   O distrito de Ansai, onde Nangou está situada, com cerca de 3 mil quilômetros quadrados, se assemelha em tamanho ao território chinês de Hong Kong. Por onde passei, admirei belos muros e paredes de casas com figuras rupestres alegres, coloridas, imbuídas de um simbolismo bastante peculiar. Fiquei sabendo que Ansai integra o patrimônio cultural “Shaanbei”, que se tornou nacionalmente famoso em várias frentes, por exemplo, além das pinturas rupestres, cerâmicas elaboradas também são produzidas, intrincadas figuras de recortes de papel embelezam festivais, centenárias canções folk são passadas de geração a geração, e como se não bastasse, a icônica dança do tambor de cintura.

   Tal dança, patrimônio imaterial da região, apresenta dançarinos e acrobatas desfilando com agilidade e intensa musicalidade enquanto tocam seus “yaogu”, ou tambores presos à cintura. Esta tradição foi inclusive retratada em um filme, “Yellow Earth”, onde 150 percussionistas aparecem em performance espetacular.

   Apesar de famoso, conforme apurado, não existe apresentação dessa dança na semana de minha visita. Meu tempo escasso se justapõe à vontade de melhor conhecer as celebrações locais e apreciar melhor esta cultura rural dinâmica e promissora. Para quem ama história e costumes, vale a pena uma estadia prolongada nesta surpreendente aldeia chinesa.

Sair da versão mobile