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Xi Jinping: arquiteto-chefe da Iniciativa do Cinturão e Rota

Beijing – Todos os olhares estão voltados para Xi Jinping, enquanto o presidente chinês recebe líderes estaduais, executivos empresariais e acadêmicos do mundo todo para a terceira edição do Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional.

Em apenas 10 anos, a Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), o ponto de vista de Xi para o desenvolvimento global, tornou-se um dos bens públicos mais conhecidos mundialmente, proporcionando oportunidades de avanço a muitos países em desenvolvimento.

A reunião em Beijing oferece uma oportunidade histórica para todos os parceiros da ICR aproveitarem as conquistas marcantes dessa iniciativa e progredirem em direção à prosperidade mútua.

Por que Xi propôs a ICR? O que levou ao sucesso da iniciativa? E quais os objetivos de Xi com a iniciativa?

AUMENTO DO DESENVOLVIMENTO PARA PROSPERIDADE GLOBAL

No final da década de 1960, um adolescente chegou a uma pequena aldeia distante no planalto de Loess, China, após três dias de viagem de trem, caminhão e a pé. Ele estava entre os “jovens instruídos” enviados ao campo para serem “reeducados” com os conhecimentos rústicos da maioria agrícola da China.

Ele ficou surpreso com os duros desafios da vida em Liangjiahe como dormir em alojamentos em cavernas infestados de pulgas, trabalhar por longos períodos e lidar com a fome. Ele superou essas dificuldades por sete anos, ajudando seus companheiros aldeões a melhorar de vida.

Esse jovem era Xi.

“Não comíamos carne durante meses”, lembrou Xi décadas depois, em uma visita à cidade americana de Seattle como presidente chinês. “O que eu mais queria na época era tornar possível para os aldeões comerem quanta carne quisessem”.

Xi Jinping visita a aldeia Liangjiahe, na vila de Wen’anyi, distrito de Yanchuan, em Yan’an, Província de Shaanxi, noroeste da China, em 13 de fevereiro de 2015. (Xinhua/Lan Hongguang)

O sabor amargo da pobreza aumentou a convicção de Xi: o desenvolvimento é o pilar para resolver os problemas da pobreza. Mas como?

Xi escolheu colocar o desenvolvimento da China nos eixos. “Primeiro as estradas, depois a prosperidade”. Xi frequentemente cita esse ditado popular chinês para explicar como a construção de infraestruturas pode estimular o desenvolvimento. Ele acredita que a mudança de um teleférico ou a reforma de um problema na estrada, em particular em algumas zonas menos favorecidas, pode abrir portas para a redução da pobreza e a prosperidade comum.

Um aldeão de Liangjiahe, Wang Xianping, lembrou-se de como Xi, que era líder da aldeia, reformou a estrada que ligava a aldeia a outros locais. “Era um caminho estreito e perigoso que mal cabia um carrinho de mão, então virou uma estrada larga”, disse Wang. A estrada ajudou a aldeia a impulsionar seu desenvolvimento.

Quando Xi assumiu o comando da China, o país tinha acabado de se tornar a segunda maior economia do mundo e enfrentava vários desafios. A abertura é considerada um motor essencial para a milagrosa ascensão econômica da China ao longo das últimas quatro décadas. Xi reafirmou a dedicação da nação a uma abertura maior.

A ICR virou “um novo projeto de alto nível para a reforma e abertura da China, representando uma abertura a um nível mais elevado e ressoando com a busca pelo desenvolvimento de alta qualidade”, disse Wang Yiwei, diretor do Instituto de Assuntos Internacionais na Universidade Renmin.

Embora a ICR esteja alinhada com o compromisso de Xi para uma maior abertura, tem desempenhado um papel essencial na conexão das necessidades de desenvolvimento mais urgentes do mundo com o que a China se destaca: construir estradas e pontes para aumentar a conectividade. Xi entende bem as necessidades dos países em desenvolvimento. Certa vez, ele disse ao Wall Street Journal em entrevista por escrito que, de 2010 a 2020, o déficit anual de financiamento para o desenvolvimento infraestrutural na Ásia era de cerca de US$ 800 bilhões. Um relatório do Banco Asiático de Desenvolvimento conclui que a Ásia em desenvolvimento precisa de investir US$ 1,7 trilhão por ano em infraestrutura até 2030 para manter a dinâmica de crescimento.

Trem de unidade múltipla elétrica de alta velocidade correndo na Ferrovia de Alta Velocidade Jacarta-Bandung em Purwakarta, Indonésia, em de 30 de setembro de 2023. (Xinhua/Xu Qin)

A ICR “aproveita a experiência inigualável e os benefícios competitivos da China na construção de infraestruturas: ferrovias, estradas, portos, aeroportos, centrais elétricas, telecomunicações”, disse Robert Kuhn, especialista americano e autor do livro “How China’s Leaders Think” (“Como os Líderes da China Pensam”, na tradução livre).

Contudo, a ICR vai além de infraestruturas. É uma solução chinesa para questões de desenvolvimento global, afirma um Livro Branco sobre o desenvolvimento da ICR. O atual déficit em termos de paz, desenvolvimento e governança representa um desafio assustador para a humanidade, oferecendo uma oportunidade para a intervenção da ICR.

Para o líder chinês, assim como a China não pode se desenvolver isolada do mundo, o mundo precisa da China para seu desenvolvimento.

“A proposta de Xi para a ICR foi motivada principalmente pela sua vontade de compartilhar as experiências de desenvolvimento da China com o resto do mundo”, disse Wang.

Como disse Xi, buscar a ICR “não é reinventar a roda”. Em vez disso, visa complementar as estratégias de desenvolvimento dos países envolvidos, alavancando seus pontos fortes comparativos. “A ICR que apresentei visa alcançar o desenvolvimento compartilhado e ganhos mútuos”, disse Xi.

REVIGORAMENTO DA COMUNICAÇÃO ENTRE CIVILIZAÇÕES

Os aldeões de Liangjiahe ainda se recordam que Xi chegou à aldeia em 1969 com duas malas cheias de livros.

Foto de arquivo tirada em 1972 mostra Xi Jinping, um “jovem instruído” no campo, voltando a Beijing para visitar os parentes. (Xinhua)

Xi adora ler, isso é algo recorrente no seu cotidiano. Certa vez, ele caminhou 15 quilômetros para pegar emprestado um exemplar de Fausto, a obra-prima de Johann Wolfgang von Goethe.

“A leitura revigora minha mente, inspira-me e impulsiona minha força moral”, disse Xi. Mesmo após ter assumido o cargo de liderança mais alto, ele continua lendo, apesar de sua agenda lotada, tendo ainda incentivado funcionários do governo a ler.

O hábito de leitura deu a Xi um rico conhecimento das histórias e culturas de ambos Oriente e Ocidente e uma fonte de inspiração para seu pensamento sobre o desenvolvimento global.

Em 9 de setembro de 2013, ao visitar o Museu Amir Timur em Tashkent, Uzbequistão, durante sua primeira viagem à Ásia Central como presidente chinês, um mapa da antiga Rota da Seda chamou a atenção de Xi.

Xi apontou para um ponto no mapa, identificando que era Xi’an, sua cidade natal e ponto de partida da Rota da Seda. A cidade, antes conhecida como Chang’an, é um importante berço da civilização e da nação chinesas.

Há mais de 2.100 anos, Zhang Qian, emissário real da Dinastia Han, fez uma corajosa jornada para o oeste a partir de Chang’an. Suas aventuras abriram as portas ao intercâmbio comercial e cultural entre a China e a Ásia Central e ajudaram a tecer a Rota da Seda ligando o Oriente ao Ocidente.

Compartilhando a história com o público da Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, em 2013, Xi disse: “Atualmente, enquanto estou aqui e relembro a história, é como se ouvisse os sinos dos camelos ecoando pelas montanhas e visse fumaça subindo do deserto”.

Xi Jinping discursa na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, em 7 de setembro de 2013. Xi propôs a construção do Cinturão Econômico da Rota da Seda no discurso. (Xinhua/Wang Ye)

Abrangendo milhares de quilômetros e milhares de anos, as antigas rotas da seda eram mais do que rotas de comércio. A circulação de mercadorias incentivou a comunicação entre as culturas. Ondas de caravanas, viajantes, estudiosos e artesãos viajaram entre o Oriente e o Ocidente como enviados culturais. Caminhos movimentados ligavam os locais de nascimento das civilizações egípcia, babilônica, indiana e chinesa, além das terras das principais religiões.

Várias relíquias descobertas ao longo das rotas antigas, incluindo o milenar “bicho-da-seda de bronze dourado” exibido no Museu Histórico de Shaanxi, na China, e o naufrágio de Belitung, descoberto na Indonésia, são a personificação do espírito da Rota da Seda, que promoveu a paz e a cooperação, a abertura e a inclusão, a aprendizagem e o benefício mútuos.

“A história é a melhor professora”, diz Xi, e reviver e levar adiante o espírito da Rota da Seda e promover intercâmbios culturais e interpessoais é parte integrante da ICR.

“Devemos estabelecer um mecanismo multinível para intercâmbios culturais e interpessoais, construir mais plataformas de cooperação e abrir mais canais de cooperação”, disse Xi ao discursar na primeira edição do Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional em 2017.

Xi sempre pode combinar teoria, história e realidade e se inspirar nas tradições marcantes da nação, disse Martin Albrow, membro da Academia Britânica de Ciências Sociais. Para Xi, as civilizações não precisam entrar em conflitos e nenhuma reina de forma suprema. “As civilizações só variam entre si, assim como as pessoas são diferentes em termos da cor da pele e do idioma”, disse ele.

“Na prossecução da Iniciativa do Cinturão e Rota, devemos garantir que, ao se tratar de diferentes civilizações, o intercâmbio substituirá o distanciamento, a aprendizagem mútua substituirá os confrontos e a coexistência substituirá o sentimento de superioridade. Isso irá impulsionar a compreensão, o respeito e a cooperação mútuas entre diferentes países”, afirmou Xi ao discursar na primeira edição do fórum do Cinturão e Rota.

Por essa razão ele propôs a realização da Conferência sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas e apresentou a Iniciativa de Civilização Global.

“Devemos manter nossas civilizações dinâmicas e criar condições para que outras civilizações prosperem”, disse Xi.

Muitos concordam com o ponto de vista de Xi.

“A ICR reavivou o espírito da Rota da Seda. Ao ativar esse espírito, outras civilizações podem voltar a um estado harmonioso de aprendizagem mútua. É assim que as civilizações devem conviver”, disse Wang Yiwei.

O ex-presidente grego Prokopis Pavlopoulos disse: “O presidente chinês Xi Jinping é um grande líder que conhece bem as civilizações, a essência e a missão das civilizações”.

INSPIRAR UM MUNDO MELHOR

“A humanidade, ao viver na mesma aldeia global, na mesma época em que a história e a realidade se encontram, emerge cada vez mais como uma comunidade com futuro compartilhado, na qual cada um tem em si um pouco dos outros”, disse Xi a uma plateia animada e lotada no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou em 2013.

Foi a primeira visita de Xi ao exterior depois que ele virou presidente da China. Durante essa viagem, Xi propôs pela primeira vez a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade. A ideia virou um princípio fundamental da política externa da China. Vários meses depois, Xi apresentou a Iniciativa do Cinturão e Rota, amplamente vista como uma etapa significativa para concretizar sua visão de um mundo melhor.

O presidente chinês, Xi Jinping, conversa com representantes de funcionários locais em visita ao porto de Pireu, na Grécia, em 11 de novembro de 2019. (Xinhua/Xie Huanchi)

Ao longo da última década, o mundo testemunhou sentimentos crescentes antiglobalização, um crescimento econômico global fraco e diferenças crescentes de riqueza entre os países ricos e os menos desenvolvidos.

Quando alguns países do Ocidente alardeiam sobre o desacoplamento em nome da chamada “redução de riscos”, a China, sob a liderança de Xi, insiste na cooperação benéfica para ambas as partes e no multilateralismo genuíno. Ele entende perfeitamente que “somente quando as pessoas em todo o mundo viverem melhor a prosperidade poderá ser sustentada, a segurança protegida e os direitos humanos solidamente fundamentados”.

Xi tem feito esforços pessoais para garantir que os países se beneficiem das oportunidades que a ICR oferece. Um exemplo é a revitalização do porto grego de Pireu, que já esteve à beira da falência, mas que agora se tornou um dos centros marítimos mais movimentados do mundo.

A partir de 2014, Xi mencionou repetidamente esse projeto simbólico do Cinturão e Rota durante suas reuniões com líderes gregos. Ao visitar a Grécia em 2019, fez um tour especial pelo porto.

“Ver para crer”, disse Xi emocionado ao ver o porto recebendo um novo sopro de vida. “A ICR não é um slogan ou um conto, mas uma prática bem sucedida e uma realidade brilhante”.

Com plena consciência das crescentes necessidades de desenvolvimento do Sul Global, o líder chinês sempre prestou forte atenção ao apoio à implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Para isso, Xi propôs a Iniciativa de Desenvolvimento Global em 2021. Apelou à comunidade internacional para garantir que todos os países sejam incluídos na modernização global.

De fato, a ênfase de Xi em acabar com as lacunas de desenvolvimento no mundo remonta à época em que ele foi um funcionário chinês local.

Bathsheba Mchuza, fundadora e diretora de vendas do projeto Uyogaplus, mostra o cultivo de cogumelos em um workshop sobre “Aplicações da Tecnologia Juncao e sua Contribuição para o Alcance da Agricultura Sustentável e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na Tanzânia” no distrito de Kinondoni, arredores de Dar es Salã, Tanzânia, em 10 de março de 2022. (Foto por Herman Emmanuel/Xinhua)

Como governador da província de Fujian, no sudeste da China, Xi apoiou várias iniciativas de combate à pobreza. Entre elas, o programa “Juncao” foi um projeto emblemático que envolveu o cultivo de cogumelos comestíveis que eram usados tanto para a alimentação de animais quanto para minimizar a erosão do solo.

Sabendo que a pobreza ainda é um desafio global, Xi defende consistentemente a tecnologia Juncao durante suas visitas ao Pacífico Sul, a África e a América do Sul. “Ele tem dado muita atenção ao projeto porque sabe bem o que esta pequena planta pode oferecer”, lembrou Lin Zhanxi, cientista-chefe da tecnologia Juncao.

A equipe de Lin forneceu tecnologia e treinamento de pessoal para o (projeto) Juncao, que foi apresentado a 106 países e incluído nos planos de desenvolvimento da ONU devido à capacidade de resolver problemas como a falta de alimentos. Alguns moradores inclusive adotaram o nome chinês “Juncao” para si mesmos, enquanto outros o chamam de “grama da felicidade”.

“É necessário dar atenção a alguns projetos urgentes que beneficiam a população local”. Estas são as exigências claras de Xi para todos os projetos da ICR. O formador de opinião europeu Modern Diplomacy comentou em um artigo recente de opinião que a ICR contribuiu significativamente para a transformação das economias em desenvolvimento na África através do desenvolvimento de infraestrutura, da redução do desemprego e da melhoria do comércio, entre outras coisas.

“A China não pretende explorar a África como o mundo ocidental pensa, porque juntamente com o desenvolvimento de infraestrutura africanas, a Iniciativa do Cinturão e Rota está ajudando na própria transformação da África”, observou.

E acredita-se que os benefícios da iniciativa chegarão a ainda mais lugares do mundo nos próximos anos. De acordo com um relatório do Banco Mundial, o aumento do comércio através da cooperação do Cinturão e Rota “deverá aumentar o rendimento real global em 0,7% a 2,9%”, e os projetos da ICR “poderão ajudar a tirar 7,6 milhões de pessoas da pobreza extrema”. Outro relatório dos consultores econômicos globais Cebr estimou que a ICR, cujos benefícios “são generalizados”, “provavelmente aumentará o PIB mundial em US$ 7,1 trilhões por ano até 2040”.

Foto aérea de 5 de outubro de 2023 mostra turbinas eólicas Goldwind da China em Chaiyaphum, Tailândia. (Xinhua/Wang Teng)

Para o ex-vice-primeiro-ministro tailandês Phinij Jarusombat, a ICR “é uma iniciativa pioneira e de classe mundial”, pois “traz paz, cooperação, desenvolvimento e compartilhamento ao mundo. Reduz contradições e conflitos, fazendo com que as pessoas procurem intercâmbios e cooperação nos domínios da cultura, comércio e viagens”.

“Conheci líderes de muitos países. Ao meu ver, o presidente chinês Xi Jinping é um líder de mente aberta, com equilíbrio e determinação inabalável”, comentou ele.

O economista panamenho Eddie Tapiero, autor do primeiro estudo sistemático da ICR na América Latina, disse: “A ICR tem o espírito e a essência da antiga Rota da Seda, defendendo a paz e destacando a busca do desenvolvimento comum através do diálogo e da cooperação”.

“Meus amigos perguntaram uma vez: ‘Qual é o sentido de estudar isso?’”, disse ele. “Respondi: é por um mundo melhor”.

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